terça-feira, 26 de junho de 2012

Solitude

Tenho andado afastada do blogue, não tenho sentido necessidade de escrever aqui... Tanta coisa aconteceu, tanta coisa pequenina que me fez sentir grande e forte, tanta coisa importante que me fez sentir como um grão de areia e mesmo assim não me senti compelida a partilhar.

Estou bem na minha solitude, não me sinto sozinha e cada dia aprendo mais qualquer coisa, sobre mim ou sobre os outros, não interessa, aprendo sobre a vida e vou conhecendo melhor o ser humano, não só aquele que se revela perante mim mas, através dele, do que partilha comigo, revendo-me ou não, vou-me encontrando.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um ano...

Um ano após iniciar este blogue...já sei mais um bocadinho sobre mim. Hoje posso assumir-me como submissa.

Submeter-me continua a ir contra o meu feitio mas é na submissão que me encontro, é servindo que me sinto realizada, é sendo possuída que me sinto bem, é sendo usada que sou feliz.

Ainda não consegui encontrar o equilíbrio e a tranquilidade que procuro mas já servi com devoção. Para isso já me libertei de algumas das amarras, já me acorrentei aos pés de um Dono, já cresci enquanto submissa, enquanto mulher.

Ao acordar do coma, a que me havia induzido, despertei para a vida e a mudança começou. Ainda sou a mesma pessoa mas...diferente e melhor.

O caminho ainda vai no início, tudo o que já vivi nestes últimos meses é, apenas, uma pequena parte do que me está destinado. A viagem continua e é sobre ela que tenciono continuar a escrever, partilhando os momentos que acontecem na minha submissão, os bons e os maus.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Numa esquina

Finalmente o meu pensamento está mais dividido, já não passo tanto tempo a tentar analisar o passado, a tentar descobrir onde errei, o que aconteceu. Dou por mim a pensar no futuro, e no que me poderá reservar, e isso é positivo. 

Se há momentos em que a saudade me prende ao passado há outros em que...a fantasia me leva para longe, para possíveis futuros. Encontro-me numa esquina qualquer da vida e tenho de escolher uma direção, não posso atravessar a rua e continuar em frente, tenho de escolher esquerda ou direita. As decisões tornam-se mais fáceis de tomar quando estou acompanhada.

A vida é tão mais fácil quando delego as minhas escolhas, a minha vontade. Sempre lutei pela minha independência, pelo meu livre arbítrio, e dou por mim a desejar ter a quem entregar a minha vontade. Há quem lhe chame desresponsabilização mas para mim é sinónimo de posse, confiança e respeito. É acreditar que a pessoa a quem delego o meu ser me compreende e preocupa-se tanto com o meu bem-estar como com o prazer que pode extrair de mim.

Ainda não sei se é com esta mudança de direção que vou encontrar o meu rumo mas...pelo menos continuo a caminhar, não posso voltar a adormecer.

sábado, 2 de junho de 2012

Como adolescente

Hoje acordei agitada...talvez seja por ir para Aveiro. Espera-me mas uma noite com as meninas, boa conversa, bom vinho...e partilha, muita partilha.

Normalmente há um regresso ao passado, quando estou com elas. Voltamos a ser adolescentes e...a magia acontece e os momentos são sempre para relembrar.

Talvez venha daí a minha necessidade de analisar constantemente o passado, querer compreender o que se passa à minha volta, o que ganhei, o que perdi... Eu e as meninas damos muito valor à nossa história, ao nosso passado, principalmente ao que partilhamos juntas. Temos orgulho na nossa longa amizade.

Foram os momentos que passei com elas que me alimentaram o espírito durante anos... Fazíamos coisas diferentes, fora do comum, sempre primamos pela originalidade. Pelo menos para mim...que sempre as admirei, em todos os sentidos.

Talvez a ideia de voltar a ser adolescente...esteja já a influenciar os meus pensamentos, as minhas emoções, porque...estou a ficar ansiosa e não é só por causa da noite que vou passar a Aveiro!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Aceitação

Depois de uns dias complicados, agitados e tristes (eu bem disse que estava na fase 4) em que chorei o suficiente para encher um pequeno aquário, revivi todo o processo de luto de forma intensa e veloz, estou mais tranquila. Mais uma vez não soube lidar com as minhas emoções e mas uma vez quebrei...para depois renascer. 

O sentimento mantém-se, amo o Mestre. Apesar de toda a agitação e intranquilidade que Ele me transmite, apesar de ainda mexer com as minhas emoções, ainda brincar com o meu cérebro...já não me possui. Terá sempre um lugar especial no meu coração pois ajudou-me a encontrar quem eu sou, a direcionar-me na submissão e por isso me sinto eternamente grata.

Não foi uma relação D/s fácil, quem O conhece sabe que Ele não é uma pessoa fácil e comigo, especialmente, não foi mesmo nada fácil. Mas foi com Ele que conheci o sentimento da posse, o que antes eu apenas fantasiava, de repente, estava a vivê-lo. Proporcionou-me novas experiências, umas boas e outras más; levou-me a viver as emoções de forma intensa, indo de um extremo ao outro rapidamente; deu-me a conhecer o prazer e a dor, bem como a felicidade e o sofrimento; possuiu-me enquanto fez sentido e depois...lentamente foi-me libertando para que me entendesse...para que encontrasse o meu rumo.

Foi sempre com orgulho que caminhei a seu lado, mesmo nos momentos mais difíceis senti sempre vaidade da minha submissão ao Mestre, e com orgulho recordar-me-ei para sempre dessa viagem juntos, dessa etapa da minha vida como sua submissa e do que aprendi com Ele.

Quero acreditar nas palavras que trocamos, quero acreditar que ficou uma amizade mais próxima, mais íntima que o comum e que sempre que precisar do Mestre...posso contar com Ele. Perdi um Dono mas ganhei um amigo e isso dá-me alento para continuar o meu caminho, saber que posso contar com o ombro Dele se, por ventura, errar em alguma das decisões que agora tenho de tomar sozinha.

Agora conheço-me melhor, compreendo a minha submissão, e sinto-me preparada para servir quem me possuir. Obrigada Mestre!

A viagem continua...

Adeus


Adeus - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

(foi mantida a grafia original)