quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Encoleirar

Como submissa que sou, se há algo que desejo é...ostentar uma coleira. Sim, tal como a noiva deseja a aliança no anelar esquerdo também eu desejo a coleira. Ser encoleirada é o reconhecimento da entrega de ambos na relação, o Dom reconhece a sub como sendo SUA sub, e aceita todas as responsabilidades, e a sub reconhece o Dom como sendo seu Dono e entrega-se a ele.

A coleira física é a demonstração da que ambos carregam na alma e na mente, a que verdadeiramente une Dono e sub. Eu posso sentir que pertenço ao meu Dom e carregar essa coleira dentro de mim mas...se a carregar sozinha, apenas por vontade própria, não posso dizer que sou uma sub encoleirada.

A coleira não significa promessa ou esperança na entrega mas antes o reconhecimento da que já ocorreu. A coleira celebra o caminho que já foi feito, a confiança conquistada, e o respeito alcançado. Reflete as provas dadas de obediência e devoção da sub e a  integridade e o compromisso do Dom.

Colocar uma coleira não é algo que se faça de ânimo leve, ela representa a união, a partilha de valores, a aceitação dos limites (que podem ou não a vir ultrapassados!), um companheirismo saudável e equilibrado. É necessário uma grande cumplicidade e complementaridade para se colocar/aceitar uma coleira.

Mas não entendo o momento do encoleiramento como o culminar da relação! Não! A relação não estagna, cresce ainda mais! A entrega da sub será incondicional, confiará cegamente no seu Dono, porque sabe que ele cuidará dela e a protegerá, pois é responsável pela sua própria vida. Esse é o compromisso inerente à coleira. Essa é a coleira que anseio!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Corpo

Tenho sentido o meu corpo como já não o sentia há algum tempo. Não sei se é por causa do frio e da chuva, consequência da trovoada (que adoro ver e ouvir!), se é por andar a acordar mais cedo...não sei. Mas algo o despertou.
 
Hoje, principalmente, parece que não tenho controlo sobre ele e tudo me parece excitar. O simples roçar da roupa, um toque casual e...meus mamilos despertam ainda mais! Mesmo os seios parecem-me maiores e mais firmes, quer no reflexo do espelho quer no toque. A minha libido também aumentou, sinto a energia que impulsiona a vida a crescer dentro de mim, e o néctar que dela nasce.
 
O desejo começou há uns dias, como um murmurinho, e tem vindo a aumentar de intensidade. Não tenho outra opção senão satisfazê-lo. Minhas mãos são as minhas aliadas neste momento. A minha mente...bem...não sei se é a minha mente que comanda o corpo ou...se é o corpo que comanda a mente! Mas que estão em sintonia não duvido.
 
Percorro o meu corpo inconscientemente e acaricio-o onde me dá mais prazer. Só me apercebo quando sinto um arrepio a passar por mim. Sorrio! E depois, já conscientemente, volto a acariciar-me. É bom! Insisto e uma sensação de bem-estar apodera-se de mim, da minha alma e do meu corpo. Sossego mas...apenas por uns instantes!
 
Não sei que se passa mas gosto da forma como meu corpo me está a dar prazer. A dar ou a pedir, não sei! Sei apenas que estou pronta para o receber e, embora já sejam horas de dormir, acho que vou continuar a  usar as minhas mãos mais um bocadinho.

domingo, 23 de outubro de 2011

Cinzenta? Não!

Mais um Domingo! Desta vez cinzento mas...só está cinzento lá fora porque eu estou bem colorida! Ser livre é ótimo, poder fazer o que me apetece...ainda melhor! Já me tinha esquecido desta sensação! Aos poucos começo a recuperar tudo o que é meu e cada vez é mais fácil!

Os amigos não são a minha âncora mas a minha tábua de salvação! Não me levam ao fundo e, como me conhecem bem, sabem como me tirar do poço onde estive presa! Hoje preparam-me uma surpresa...estou ansiosa por descobrir... Sinto-me em pulgas...como há muito não sentia.

Vou-me preparar porque hoje quero estar no meu melhor, não pelos amigos, não por quem possa aparecer na minha surpresa mas...por mim! Agora tudo o que faço...faço-o por mim! Porque quando se fecha uma porta...muitas janelas se abrem e há uma, em particular, que me interessa que abra mais um bocadinho!

sábado, 22 de outubro de 2011

Decisão

Há momentos em que me sinto entre a espada e a parede e tenho de decidir se me deixo ficar, sabendo que a espada vai continuar a trespassar-me lentamente, ou se faço um último esforço para impedir que o sofrimento continue.
 
Eu sei que à medida que a espada passa pelo meu corpo a dor vai ser cada vez mais acutilante. Não posso ficar à espera que a morte chegue para acabar com o meu sofrimento, tenho de agir. Se vou morrer ao menos que seja com orgulho, sentir-me-ei mais tranquila se souber que fiz tudo para continuar viva. Eu mereço respeito até no momento da morte.

Olho para o meu carrasco e não consigo perceber o que pensa cada vez que desliza a espada um pouco mais para dentro de mim. Não sei se a situação lhe dá prazer ou se simplesmente cumpre o seu dever, mas sei que vai continuar e nada do que eu diga o vai fazer parar. Talvez até se reveja como o meu salvador, talvez pense que preciso de morrer para depois poder ressuscitar das cinzas e ser uma pessoa melhor. Mas independentemente do que ele pensa ou sente a vida é minha, sou eu quem sente a dor, e sou eu que tenho de acabar com o sofrimento.
 
Num rasgo de lucidez, e com as forças que ainda me restam, consigo libertar as minhas mãos e tento afastar a espada. Não consigo. O carrasco tem mais força que eu e não se deixa mover pelo meu último esforço, continua irredutível. Percebo que independentemente do que eu faça vou morrer e por isso...agarro na espada e com toda a convicção puxo-a para dentro de mim. A lâmina corta-me as mãos, o sangue começa a escorrer, sinto-me fraca mas não a largo. Inspiro fundo e dou o golpe de misericórdia. 
 
Meu coração, que antes estava agitado, acalma-se e de repente deixo de sentir dor. Fecho os olhos e abraço o momento. Sou de novo livre.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Felicidade

Há já algum tempo que me sinto um ponto de interrogação. Quero avançar no caminho mas parece-me que não saio do lugar. As dúvidas são constantes e as certezas que daí surgem levam-me para campos extremos. A maior dúvida é sobre quem sou, sou uma baunilha submissa ou uma submissa abaunilhada? A única certeza é que quero ser feliz!
 
É na minha felicidade que tenho vindo a pensar nos últimos tempos. Não quero apenas momentos de felicidade, quero poder dizer que sou feliz, mesmo com as coisas más que acontecem, mesmo com as dificuldades que tenho de ultrapassar, mesmo com os sacrifícios que tenho de fazer... Quero poder deitar-me com vontade de acordar no dia seguinte, adormecer pacificamente sem perder horas a analisar o meu dia, as minhas decisões e a tentar encontrar respostas para as minhas dúvidas.

A minha felicidade depende da paz e tranquilidade interior que consigo alcançar. A submissão só faz sentido se me proporcionar esse sentimento de calma e se for fonte de prazer (para servir por obrigação já eu tenho muita gente). Na felicidade não há lugar para dúvidas ou inquietações. Ser feliz é viver num estado de plenitude e satisfação, é estar bem comigo mesma.
 
Se quero ser feliz tenho de evitar o que ameaça o meu sossego mesmo que essa atitude me deixe me pouco mais vazia!

Consensual

Um Dominador disse-me que na submissão não há lugar ao consensual, ser submissa é confiar no caminho que o outro escolhe para nós, sem questionar, sem duvidar, o meu único direito é servir e fazer da vontade do outro a minha própria vontade. Se imponho limites não me estou a submeter, não me estou a entregar toda como devo e a relação não funciona. 

Das primeiras coisas que aprendi quando comecei a pesquisar foi a importância do SSC - São, Seguro e Consensual (mesmo no RACK - Risk Aware Consensual Kink (Kink Consensual com Consciência do Risco) o consensual está presente) e percebi que se nem sempre se pode garantir os "s" (porque os acidentes acontecem!) o consensual é obrigatório e deve ser sempre um limite. 

Eu não estou à espera que o Dominador, que eu escolhi para me guiar, me peça opinião sobre tudo, e muito menos que peça autorização para determinadas práticas...Não é isso que quero dizer, tenho plena noção de quem comanda a relação e decide o caminho. Mas todas as decisões devem ser tomadas a pensar em mim também, na pessoa que sou.

Imaginemos que o Dominador adora práticas com agulhas e que eu tenho fobia às mesmas. Eu até sei que o meu medo é irreal, que as agulhas não me vão matar mas...só de olhar para elas o coração dispara, a respiração torna-se difícil...e eu só quero fugir. É um limite que imponho à partida mas até sei que gostava de eliminar o medo que sinto pois ajudaria bastante nas colheitas sanguíneas a que terei de me sujeitar no futuro (sem falar no prazer que daria ao outro!).

Imaginemos que conversamos sobre o assunto e permito que o Dominador use agulhas em mim. Espeta a primeira e eu continuo serena, espeta a segunda, a terceira...mas com a quarta eu começo a ficar agitada, o meu medo começa a crescer e não o consigo controlar. Para mim a prática terminava aí. Não foi um limite ultrapassado mas da próxima vez talvez consiga ir mais longe. Se o Dominador continua a insistir só vai fazer com que o meu medo cresça e a confiança que depositei nele sai fragilizada. Se lhe peço para não voltarmos a tentar nos próximos dias e ele insiste em fazê-lo no dia seguinte então a minha confiança decresce ainda mais. Se o volta a fazer contra a minha vontade começa a perder também o meu respeito e o meu medo não desaparece mas agrava-se.

Saber que tudo o que acontece entre mim e o dominador é consensual é o que permite que a confiança cresça e que entregue cada vez mais ao outro. Eu sei que muitas vezes serei manipulada para agir em conformidade com os desejos do Dominador mas, para mim, ser bem dominada é não me aperceber de quando estou a ser manipulada. Se o Dominador conseguir fazer com que eu pense que a vontade de usar agulhas é minha...excelente! Limite ultrapassado, venha o próximo!

Não, não posso prescindir do consensual (mesmo que às vezes o mesmo tenha sido manipulado!). É ele que permite que a minha confiança e respeito pelo outro cresçam.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dúvida

Hoje é mais um dia triste! Ultimamente tenho tido demasiados dias tristes! Demasiadas perdas, umas atrás das outras!

Tenho vontade de me induzir em coma novamente! Ando há algum tempo a tentar encontrar-me e parece que cada vez me afasto mais do que sou. Sinto-me perdida, à deriva num mar de dúvidas, quero ir para um lado e maré empurra-me para outro. Porque não consigo alcançar terra firme?

Não compreendo as pessoas! Não sei se é consequência do coma em que vivi os últimos anos ou se foi por isso que me induzi em coma nos últimos anos. Refugio-me porque me magoam ou refugio-me para não me magoarem? A minha racionalidade é o meu melhor aliado ou o pior inimigo? Sou realista ou pessimista?

Neste momento sinto-me uma nulidade. Apesar do caminho que percorri parece não ter saído do lugar. Eu sei que caminhei, eu lembro-me dos passos que dei mas...quando olho para mim estou na mesma! No fundo não cresci, mantenho as minhas inseguranças, não confio nas minhas decisões, duvido do que sinto! Estive tão perto de me tornar uma pessoa diferente e melhor! E de repente volto a ser a mesma "ana" dos velhos tempos!

As emoções tolhem-me o discernimento e a razão não me permite sentir. Não consigo encontrar o equilíbrio. Quando acredito que estou no bom caminho, que finalmente encontrei o rumo certo...tudo se altera! Afinal o rumo não era o meu! O turbilhão de emoções não me deixou ver que me afastava do meu destino. Agora sinto-me mais longe, perdida no meio de um oceano, e não tenho onde me agarrar. Não sei se hei-de voltar para trás ou se devo tentar seguir em frente, à procura de um porto seguro.

Vou tentar boiar por uns tempos, recuperar forças e depois logo decido.


sábado, 1 de outubro de 2011

Perda

Hoje perdi um dos meus melhores amigos, o mais fiel! Acompanhou metade da minha existência e hoje tive de o deixar partir. Antes de sair de casa, pela última vez, olhou para mim como que a despedir-se. Quero acreditar que foi em paz sabendo que era amado.

O meu cão ainda agora partiu e eu já tenho tantas saudades! Tudo o que me deu foi de forma incondicional, nunca pediu nada em troca, dava pelo prazer de agradar, sem nunca mentir, dava simplesmente. Deu-me afeto, alegria, divertimento, companhia, força...

Inteligente e independente (nunca usou coleira!) sempre passeou sozinho e sempre regressou a casa. Por vezes ausentava-se horas de casa deixando-me preocupada mas... por fim lá aparecia todo contente, com o rabo sempre a dar a dar, mostrando satisfação. Todos os vizinhos o conheciam, sabiam o seu nome, e todos o admiravam (mesmo aqueles que inicialmente se opuseram à sua presença no prédio). Era extremamente sociável e mimalho. 

E agora? Quem me vai fazer levantar da cama nos dias tristes? Quem vem tem comigo pedindo atenção fazendo-me esquecer a tristeza? Quem me vai lamber as lágrimas? Meu cão! Partiste e contigo levaste parte de mim. Adoro-te meu cão e nunca te vou esquecer. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rebeldia

Estive a falar com amigo sobre a minha situação e necessidade de reflexão e deliberação. Expliquei, da melhor forma que consegui, a minha situação, as minhas dúvidas e certezas e a resposta dele foi: és rebelde.
Nunca escondi ter um espírito rebelde, gosto de sair da normalidade, de agir de modo diferente, de correr alguns riscos (moderados, entenda-se!). Aliás, sempre que me defini utilizei esse adjetivo.

Mas a minha rebeldia foi sempre controlada pelo meu lado racional, raramente atinjo as condições necessárias para me rebelar. Preciso de me sentir segura e ter a certeza que o que faço não terá consequências negativas, só assim o meu espírito se liberta. Nunca me esqueço que vivo em sociedade, que a mesma tem regras, nem de cumprir os meus deveres e obrigações. Ser rebelde não é o mesmo que desobediente, indisciplinada ou indócil. Ser rebelde é extrapolar os limites da banalidade.

Sendo racional, dediquei algum tempo a tentar perceber porque me sinto no limbo e a minha resposta relaciona-se com a minha insegurança. A submissão é algo novo para mim e o desconhecido sempre me assustou. Por ser um estado de ser complexo e exigente receio não estar à altura. Pela primeira vez todas as partes do meu ser (corpo, alma, mente, espírito e coração) têm de estar em consonância. Libertar-me da minha vontade não é fácil porque os sonhos e desejos continuam a surgir mesmo quando não os procuro.

As emoções também dificultam a minha decisão. Em curtos espaços de tempo sou capaz de sentir mil e uma coisas diferentes, ir de um extremo a outro, ou acrescentar mais emoções idênticas, mas não iguais (afetividade, alegria, compaixão, empatia, entusiasmo, admiração, gratidão, egoísmo, preocupação, felicidade, ciúme, inveja, esperança, orgulho, vergonha, ansiedade, paixão, ódio, paz, angústia, raiva, irritação, repulsa, medo, prazer, sofrimento, dor, plenitude, saudade, culpa, mágoa), quando antes só conhecia a resignação, o vazio e a solidão. Gerir o que sinto, identificar o que sinto não é fácil.

Nunca gostei de ser controlada, sempre evitei ter de dar explicações, argumentar ou justificar decisões. No entanto adoro ter um Dono que me controla e que quer saber tudo sobre mim, onde estou, como estou, com quem, a fazer o quê...E isso também me baralha porque ser independente foi algo pelo qual lutei e depois de conquistada a independência entregá-la assim...faz-me questionar quem sou.

Pelo que ouço e leio, quem atinge o apogeu da submissão de lá não sai, não se pode voltar atrás. Tudo o resto é pouco, tudo o resto é nada. Receio entrar num caminho sem regresso. Não sou rebelde na minha submissão, sou curiosa. Gosto de perceber o que se passa e quando isso não acontece sinto que me perco e eu já andei tempo demais perdida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Deliberar

Estou num momento de reflexão, resolvi interromper a minha busca por um Dom mas não terminá-la. Uma relação D/s continua a ser o que desejo (nada me dá mais prazer que servir e ver reconhecido o valor da minha servidão), simplesmente não me sinto preparada para tudo o que ela exige. Daí achar que primeiro tenho de caminhar sozinha, crescer e fortalecer.

Uma das coisas que mais me baralha é o conceito de "consensual". Na breve experiência que tive, todas as práticas a que fui sujeita foram consentidas mas nem sempre concordei com as mesmas. Consentia porque agradar ao Dom era o meu objetivo e não punham em risco a minha vida. Não concordava porque era algo que mexia com a minha integridade. Por exemplo, posso consentir um castigo, porque o Dom entende que eu errei, mas não concordar com ele porque, no meu ponto de vista, não errei. Aceitar o castigo obriga-me a aceitar o erro, que não cometi, e isso mexe com a minha integridade moral.

Um dos objetivos de uma relação D/s é também superar limites, tanto da sub como do Dom. Mas, no meu ponto de vista, há limites que podem e devem ser superados e outros que se ultrapassados podem, mais uma vez, mexer com a minha integridade e ter efeitos nocivos. Por exemplo, não conseguia comer manga porque o cheiro dessa fruta incomoda-me, no entanto, depois de provar percebi que até gosto do sabor, não é a minha fruta preferida mas agora como-a sem qualquer problema, foi um limite superado; Eu gosto muito de morangos mas evito-os, comê-los sem serem devidamente preparados provoca-me uma reação alérgica, logo é um limite que não pode ser ultrapassado (pelo menos sem  presença de um anti-histamínico!). Entender a natureza dos limites é algo que exige muito conhecimento do outro e esse só acontece com o tempo.

O diálogo e o respeito são essenciais para que a confiança cresça e a entrega possa ocorrer sem reservas. Se eu disser que sou alérgica a morangos tenho de ter a certeza que o Dom nunca me vai obrigá-los a comer, por muito sádico que seja tem de respeitar esse limite ou então...não é o dom certo para mim.

No BDSM não há lugar para a violência, daí a importância do SSC ou do RACK. A entrega só faz sentido se for livre, não pode ser exigida mas conquistada. Não tenho qualquer problema em satisfazer as "taras" do outro desde que eu tenha, também, prazer com elas. Infelizmente pelo que tenho ouvido e lido nem sempre é assim, muitos Dons, por serem quem conduz a relação, julgam-se com o poder total de decisão e à sub resta apenas servir e obedecer.

A minha integridade como pessoa e mulher continua a ser superior ao prazer que obtenho na submissão e é isso, que neste momento, me obriga a refletir e a ponderar muito bem o que quero e posso aceitar.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Reinício

Há um mês que me sinto no limbo, ora tenho vontade de continuar no BDSM, ora quero desistir de tudo. Continuo sem saber onde me encaixo (se é que encaixo!) e mais do que aquilo que quero... tenho descoberto aquilo que não quero. Talvez seja sinal que não pertenço a este mundo, que esta filosofia de vida não é para mim.

Procurei no BDSM uma forma de crescer, de me tornar uma pessoa melhor (mais sensata, confiante, decidida, equilibrada e tranquila), tentar corrigir a minha inadaptação ao mundo real, seguir os meus desejos e concretizar fantasias, estar melhor comigo mesma e com o mundo que me rodeia. Encontrei o prazer e a dor mas não sei se cresci. 

Nunca quis deixar de ser quem sou, anular-me ou sentir-me diminuída. Queria aceitar-me, guardando o que de melhor tenho e corrigindo as falhas. O objetivo não era tornar-me noutra pessoa, nem moldar-me apenas à imagem do outro, mas libertar o "eu" escondido.

Tenho prazer na submissão, em servir o outro, mas primeiro tenho de aprender a servir-me a mim mesma. A minha felicidade não pode depender do outro mas vir de dentro de mim. Agradar-me é o meu novo objetivo. Um novo caminho se inicia e mais uma vez não sei se estou pronta para ele.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Diálogo

Metade de uma relação é diálogo, a outra metade é sentimento. Todas as relações iniciam no momento em que se estabelece o primeiro contacto verbal. Antes da palavra há apenas suposições, a ideia formada, sem certezas, que só se prova após o diálogo. As palavras transmitem e despoletam sentimentos (positivos ou negativos) e a relação nasce ou morre.

Em todas as relações o diálogo é importante (nas D/s é ainda mais!) para que se possa atingir a confiança. A primeira coisa que entreguei ao meu Dono, ainda antes de o ser, foram as palavras. Tudo o que aconteceu entre nós foi consequência do diálogo inicial e estimulado pelos seguintes.

Mas, embora eu reconheça a importância do diálogo, revelar-me por palavras é-me muito difícil (primeiro porque não estou habituada, segundo porque receio desiludir o outro), respondo com sinceridade quando sou questionada mas exteriorizar os pensamentos mais íntimos é algo que me é penoso (acho que não possuem valor para o outro, que podem ser tomados como mesquinhos, exagerados ou descontextualizados).

Com o meu Dono percebi que nenhum dos meus pensamentos é só meu, e que os devo partilhar todos, não só porque em D/s é assim exigido, mas porque ele tinha gosto em conhecê-los. Em todos os nossos encontros havia diálogo, ele disponibilizava sempre tempo para me ouvir e esclarecer. Era nesses momentos que nos dávamos a conhecer e a relação evoluía. A única coisa que lamento foi não ter questionado mais.

Não perguntar e esperar que o outro se revele é idiota, dessa forma as dúvidas mantêm-se e crescer torna-se difícil. Estar atenta ao que o outro diz, para obtermos as respostas às questões que não tenho coragem de colocar é, além de cansativo, um processo moroso. E se aceito que o outro tem o direito de me questionar não entendo porque não consigo fazer o mesmo.

Mesmo sabendo que há sempre questões às quais um Dono não responde, nada deveria impedir-me de as colocar (nem a vergonha ou o receio de parecer curiosa, pouco perspicaz, insubmissa...) e mesmo assim...muitas vezes me remetia ao silêncio, cultivando a dúvida e a incerteza.

Não posso voltar a esquecer que o Dono é o meu melhor amigo, a quem tudo posso contar e questionar, porque somos cúmplices, porque entre nós não pode haver dúvidas nem incertezas, porque entre nós só há lugar à verdade, à partilha.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Submissa?

Seis meses de teoria, dois de prática e ainda questiono se estou no sítio certo. Houve alturas em que tive a certeza de ser submissa, em que só me submetendo alcançaria a felicidade mas hoje...hoje duvido.

Na teoria tudo faz sentido, a viagem é feita na base da confiança e do respeito mútuo, tudo é são, seguro e consensual...é a relação perfeita.
Na prática percebi que ao submeter-me perco direitos, perco identidade e o consensual é muito relativo. O outro manda e eu só tenho como alternativa obedecer ou pedir o término da relação. Há diálogo mas nem sempre sou escutada, o que interessa é a vontade do outro.

Sou demasiado rebelde porque penso e sinto, sou demasiado racional para aceitar sem questionar, demasiado exigente para não avaliar, demasiado filósofa para deixar de refletir. Entre o querer e o ser, vai uma longa distância e eu...definitivamente não sou submissa o suficiente para acompanhar o meu querer.

Entrego e fico feliz por ter quem o receba com prazer, dou e fico contente por ainda ter mais para dar mas... não me podem pedir tudo de uma só vez, não me podem exigir que me esqueça de mim, que me ignore. Há coisas que primeiro tenho de as possuir para depois as entregar, se as dou antes do tempo há uma parte de mim que morre sem nunca ter nascido.

A entrega dói, o caminho é difícil, e os conflitos interiores que surgem nem sempre são superados. A paz interior é mais importante que tudo o resto, tenho de estar bem comigo mesma para poder fazer o outro feliz. Tenho muito para aprender, muito para aceitar e só depois saberei até que ponto sou submissa. Não sei se algum dia serei capaz de delegar todo o meu ser sem reservas, sem restrições, mas esse continua a ser o meu objetivo.



Em nome da amizade...

O último fim-de-semana foi muito intenso e atribulado emocionalmente. Três dias confusos, de extremos, ora alegre, ora triste... As pessoas são de facto muito complicadas e eu nem sempre consigo compreendê-las porque não entendo a inconstância de pensamentos.

Sexta-feira à tarde fui testada por um amigo que me pedia que o acompanhasse em algo que eu não suporto e, como não entendeu que o que me pedia era algo que eu abomino (embora já o tivesse mencionado anteriormente várias vezes!), achou por bem terminar a amizade. Fiquei triste e desolada por perder uma amizade que estimava, tentei perceber onde tinha falhado, se tinha sido demasiado racional mas...o que me pedia ia contra os meus princípios e a minha sanidade mental é algo que prezo e quero manter.

Sábado de madrugada, como a tristeza era muita, contactei o meu amigo via sms na esperança de perceber se a amizade estava definitivamente terminada ou não. Precisava de saber se ele ia manter a sua decisão ou se, com o passar das horas, tinha compreendido a minha situação. Terminamos o diálogo com ele retomando a amizade e pensei que, de uma vez por todas, não voltaria a pedir-me o mesmo dando o assunto por terminado. Fiquei aliviada, contente e orgulhosa pela nossa amizade.

Sábado à noite o mesmo amigo volta a mencionar o mesmo assunto, digo-lhe mais uma vez que não posso, não consigo fazer o que me pede, não pode cobrar tudo em nome da amizade. Num ato, talvez, impensado volta a retirar a amizade. Mergulho novamente num estado de tristeza e melancolia e tento interiorizar que há pessoas que não merecem a minha amizade e muito menos a dor que me causam. 

No Domingo à tarde o mesmo amigo volta a contactar-me, como se nada tivesse acontecido, e exige que vá ao seu encontro. Recuso. Não aguento a dor de perder a amizade mas...tenho a certeza que ele continuaria a agir da mesma forma. Reatávamos até à próxima sexta-feira, dia em que voltaria a questionar a minha amizade pedindo que o acompanhasse novamente em algo que não suporto.

Fiquei contente por ele ter reconhecido o meu esforço, e a grandeza do que lhe dei, quando o acompanhei seis vezes naquilo que ele sabe que não suporto, não tolero e me faz mal, em nome da amizade mas...ficaria muito mais grata se ele não me voltasse a pedir o mesmo.

Dói-me imenso perdê-lo mas dói-me ainda mais perceber que durante o tempo em que amizade durou, e com tudo o que partilhamos, ele não tenha percebido quem eu sou na realidade.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Virtual

O virtual é algo que ainda não entendo bem. Existe porque chega até mim mas, ao mesmo tempo, não é palpável. Tudo o que faz parte dele tem origem na realidade, embora nem tudo seja real. A Internet é ótima para procurar informações e conhecimento embora seja necessário dispor de uma boa capacidade para discernir entre o verdadeiro e o falso.

Foi na Internet que eu descobri o que sou. Até ao início deste ano andei perdida, sem rumo nem direção. Por mais voltas que desse não encontrava o meu caminho, voltava sempre ao ponto de partida (umas vezes mais forte, muitas vezes mais fragilizada). Foi no desconforto da dor (tinha sido sujeita a uma cirurgia que me obrigou a repouso) que eu procurei por mim. Foi na dor que me encontrei, descobrindo respostas ao virar de cada página Web, fui crescendo sozinha, aceitando-me cada vez melhor. 

Nessa altura recorri a muitas das ferramentas que a Internet dispõe para contactar com várias pessoas virtualmente, conheci muitos nicks, vários pseudo-egos, (muitas pessoas auto-intitulam-se algo mas...no fundo, no fundo, algumas não têm a certeza de o ser e outras sabem não o ser), conversas interessantes, outras sem sentido, outras ainda ofensivas. Um novo mundo à distância de uma tecla! Mas foi no real que encontrei as respostas mais completas para as minhas questões existenciais, através de pessoas reais, com relatos de caminhadas idênticas à minha, que me elucidavam sem o saberem, partilhando comigo momentos e experiências.

Não consigo entrar de novo no virtual, diz-me muito pouco. Não quero voltar a passar pelo mesmo, a desiludir-me à medida que os diálogos avançam. Acredito que ainda vou ser feliz, duvido que essa felicidade me chegue sob a forma de "pedido de amizade", "mensagem privada" ou "comentário". Não há como olhar o outro nos olhos e ver neles o sentimento, ouvi-lo e na voz perceber o seu estado de alma, acompanhar as mãos e ver nelas o espírito, o sorriso que se abre para mim (ou não!), o cheiro que me encanta (ou afasta!)...ver a pessoa como ela é, dar-lhe espaço para se revelar para mim, tempo para me conquistar.

Quero continuar a viver no mundo real, as fantasias já não são suficientes para me alimentar a alma, o meu coração precisa do toque, a mente do estímulo, o corpo do uso.

sábado, 10 de setembro de 2011

Retomar

A minha relação não findou no dia em que ambos decidimos terminar. Está a demorar a habituar-me à ideia de já não ter Dono. Eu sei que estou sozinha de novo e tento recuperar a minha liberdade e individualidade mas não é fácil. A vontade de me entregar, a necessidade de me submeter continua presente no meu dia-a-dia.

Não quero esquecer o que aconteceu...só não quero constantemente recordar o que perdi quando tomei a minha decisão. Ainda dou por mim a pensar nos planos que tínhamos juntos, ainda tento adaptar o meu comportamento à sua imagem, ainda recordo tudo que de bom aconteceu, ainda...sou dele.

O Senhor, que foi meu Dono, agora é só meu amigo e é com isso que tenho de aprender a viver. O diálogo que ainda se mantém reflete apenas a sua preocupação, o seu carinho, e não o desejo que um dia teve por mim. Já não me possui mas continua a cuidar de mim, tentando que eu ultrapasse este momento da melhor forma possível, relembrando-me de quão forte eu sou e que ainda vou ser muito feliz.

Mas não vou procurar a felicidade, vou deixar que os dias corram, um atrás do outro, até que ela me encontre. Estou sozinha mas já não estou só.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sem Dono

Hoje o que tenho para dizer entristece-me. Já não tenho Dono, foi-me retirada a coleira ontem (precisamente no dia em que fazia três meses que o conheci!) A relação, que não chegou a durar dois meses, foi a melhor que tive até hoje e será sempre recordada com nostalgia. Foi com ela que tive a certeza de ser submissa, foi com ela que aprendi a ter prazer na submissão e percebi que há ainda muitas etapas pela frente até chegar ao meu destino.

Por muito que possa custar a ambos, a separação foi a melhor opção. Eu não podia entregar o que me era pedido e o Senhor não podia aceitar menos do que exigia. Depois de uma longa conversa, em que ambos aceitamos não ceder, o fim chegou. Aprendi muito, especialmente sobre mim, descobri limites que desconhecia, ultrapassei outros, obtive muitas respostas e coloquei-me muitas questões. Certezas, dúvidas... a vida é mesmo assim!

Neste momento quero agradecer ao Senhor que me acompanhou, me orientou, e investiu em mim o seu tempo e sabedoria. Sem ele as certezas que tenho hoje não existiriam, sem ele não seria quem sou. Estou-lhe grata por me ter libertado quando viu que eu seria incapaz de o fazer sozinha (porque era dele, porque ainda me sinto dele). Agradeço tudo o que fez por mim, tudo o que me ensinou, todo carinho e afeto, e principalmente pela companhia que me fez, sem nunca me deixar sentir sozinha. Louvo ainda a sua amizade, que se mantém independentemente da nossa relação de Dono/sub ter terminado.

Nunca vou esquecer aquele que foi o meu primeiro Dono, marcou-me para a vida e terá sempre um lugar especial no meu coração. Guardo na memória as coisas boas, o prazer e a dor que me facultou. Neste momento sinto-me frágil sem a sua proteção, sinto-me carente sem o seu afeto, sinto-me diminuída sem a sua presença. Só o tempo dirá se voltarei a ter força para recomeçar o caminho, por agora quero manter-me imóvel por uns instantes, deixar a "ana" submissa descansar e colocar a "ana" racional a comandar de novo a vida.

Nada acaba, tudo se transforma...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tempo


Domingo vai fazer três meses que vi o meu Dono pela primeira vez. Nessa altura não liguei muito. Vi-O passar por mim à porta do restaurante. Entrou acompanhado enquanto eu fumava um cigarro na rua. 
Foi o meu primeiro encontro com a comunidade de BDSM (já tinha conhecido dois dominadores pessoalmente mas...estar perante um grupo tem um peso diferente). Queria enquadrar-me e absorver o máximo de conhecimento.

Fui muito bem recebida pela organização do encontro. Fui apresentada a várias pessoas, conversei bastante e senti-me sempre acompanhada. Mas... daquele que viria ser meu Dono nada soube: nem nome, nem nick. Nem nos voltamos a encontrar durante a refeição, nem mesmo nos cigarros fumados clandestinamente na rua. Só O vi novamente mais tarde, já no bar/estúdio para onde fomos de seguida.

Olhei para Ele quando entrou. Não usava qualquer dress-code. Ao tentar adivinhar a sua posição (o que tive de fazer com muitas pessoas!) atribuí-Lhe a de Dominador. Mas como as pessoas eram muitas e os plays alguns, a minha mente foi vagueando pelo espaço, observando isto e aquilo, tentando me pôr no lugar de alguns, tentando perceber até que ponto me enquadrava. Não voltei a reparar no meu Dono, nem sequer dei conta de se ter despedido.

Não voltei a pensar Nele até O reencontrar no mesmo sítio onde O tinha visto pela última vez, há cerca de um mês. Eu estava junto ao bar, conversando, quando Ele entrou. Vinha bem-disposto e com vontade para conversar. Excecionalmente, nessa noite, chegou mais cedo que o habitual, o que permitiu que iniciássemos um dialogo que nunca mais terminou.

Desde o momento em que pegou na minha mão, pela primeira vez, que nunca mais a largou! Na Cruz entreguei-me pela primeira vez, na Cruz entreguei-me-Lhe da última vez!
Liberto-me das cordas que me prendiam ao mundo dos outros, sem sentido, e amarro-me cada vez mais nas Cordas do meu Senhor, que me suprimem as limitações.

O caminho não é fácil, ainda agora o iniciei, mas já dei muitos passos. As novas Cordas permitem que me sinta equilibrada... e mesmo nas passadas maiores sinto-me protegida, confiante, sinto-me bem.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

A melancolia dos dias cinzentos

Hoje está um dia cinzento. Tenho a janela, junto de mim, aberta e consigo ouvir o vento e a chuva que por vezes se fazem sentir. Deixo-me contagiar pela melancolia de um dia sem cor.
Estou sentada em frente ao monitor há algum tempo. Há tanto que gostava de partilhar com o mundo mas parece que tudo em que penso é demasiado íntimo para revelar.

Podia falar sobre a minha relação como o meu Dono, do que Lhe tenho entregue ou do que Ele tem vindo a tomar mas...qualquer texto teria sempre palavras insuficientes para descrever o que estamos a construir. Podia falar das marcas que adornam o meu corpo mas...por muito que as descrevesse não conseguiria transmitir o orgulho que tenho nelas.
Podia falar dos objetivos, das expectativas, dos testes, das lições, podia falar das muitas coisas que determinam uma relação mas...hoje prefiro não o fazer e guardar só para mim o que de melhor tenho.

Há dias assim! Dias em que o mundo se resume a mim e ao meu Dono. E o que tenho para partilhar destina-se só a Ele.

domingo, 28 de agosto de 2011

As "anas"

Sempre tive várias "anas" dentro de mim! A racional, a deprimida, a rebelde, a sonhadora... sou de muita forma, dependendo das circunstâncias e das ocasiões. Reajo de maneira diferente a estímulos diferentes, adapto-me, nem sempre da melhor forma, à imagem que me chega do mundo exterior e com isso o meu estado de alma altera-se.

Recentemente nasceu a "ana" submissa. A mesma que antes era uma personagem fictícia agora é real. Ainda estou a conhecê-la e a tentar perceber quais os estímulos que a acordam e porquê (esta é a "ana" racional à procura de respostas!). Cada vez está mais presente e autónoma.

A submissa que há em mim ganha força na presença do meu Dono. Todas as outras "anas" passam para segundo plano, algumas adormecem mesmo. Basta um pressentir da Sua presença e quase inconscientemente começo a servi-Lo. Tem sido assim desde a primeira vez que O vi, desde que pegou na minha mão e com ela me tomou toda.

A "ana" racional ainda tenta descobrir o que aconteceu nesse momento, o que me levou a à entrega inicial, mas a submissa não precisa de respostas, simplesmente continua a entregar. Sempre que me é pedido que me entregue é a submissa que controla a situação. É ela que se submete à vontade do meu Dono, é ela que O serve.

É como submissa que alcanço o prazer e o conforto emocional, é na submissão que me sinto feliz e realizada.


sábado, 27 de agosto de 2011

Coleira

A coleira foi um dos primeiros símbolos do BDSM que conheci e, para dizer a verdade, gostei muito pouco da mesma. Apreciei o seu significado, entrega/submissão, mas não o objeto em si. Achava que usá-la seria demasiado humilhante independentemente do que queria dizer. Ser tratada como uma cadela não fazia parte das minhas ambições e quem se importasse comigo nunca me sujeitaria à mesma.

Atualmente uso coleira todos os dias, a toda hora, com a particularidade que a minha só é percetível por mim e pelo meu Dono. Está dentro de mim. E, no entanto, hoje apetecia-me usar essa peça de couro bem cingida no meu pescoço.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tempo

As duas últimas semanas foram muito intensas, tão preenchidas que não tive tempo para escrever. Além do meu Dono, a quem dedico cada vez mais o meu dia, fiz uns dias de campismo e ter a família de férias também alterou o meu quotidiano.

Pela primeira vez preparei as coisas para o campismo no próprio dia. Normalmente era algo que começava uns dias antes criando a lista das coisas necessárias e na véspera já tinha quase tudo emalado mas desta vez não! Mas quando preparamos a mala pela vigésima vez já sabemos de cor o que temos de levar.

Tenho de aprender a gerir melhor o tempo para conseguir manter alguns hábitos, que não quero perder, e acrescentar outros, que agora fazem parte da minha vida. Não quero afastar-me dos amigos, não quero deixar de fazer jantaradas, ou mesmo de acampar, mas cada vez que estou só com eles sinto falta do meu Dono e demora até sentir-me compensada da Sua ausência.

Mas há tanta coisa nova a acontecer, tantas emoções por descobrir, que adorava conseguir esticar o tempo, para saborear devagar, devagarinho tudo o que o meu Senhor proporciona.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Trinta dias

Fez ontem um mês que conheci o meu Dono! Quando olho para trás, e penso em tudo o que já vivi com Ele...custa-me a crer que só tenham passado 30 dias! Muita coisa mudou, outras mantêm-se na mesma mas... eu já não sou a mesma pessoa que era...estou muito melhor!

O caminho não é regular, há momentos fáceis e outros bem difíceis de ultrapassar. Há sempre questões que precisam de resposta, dúvidas que não consigo esclarecer à primeira, conflitos interiores que tenho de aprender a resolver. Não é uma guerra mas... pelo meio vão havendo algumas lutas... Até agora sinto que as temos vencido todas e cada conquista é mais uma vitória que contribui para a minha felicidade.

A entrega não é fácil e não chega ter vontade. Atingir a entrega total...um objetivo que precisa de muito empenho e trabalho. Não basta querer... é preciso sentir. Eu quero entregar cada vez mais mas...ainda há partes que não consigo entregar sem restrições, sem questionar...porque a necessidade de o fazer ainda não se revelou, porque tenho medo de dar algo que nunca mais possa recuperar...

Há muito para aprender e interiorizar. Mesmo coisas básicas como pedir autorização para determinadas coisas... Ainda tenho tendência para decidir sozinha...demoro alguns segundos a perceber que já não estou autorizada para o fazer...e isso...custa-me. Andei anos a lutar pela minha independência para de repente...declinar esse direito! Perceber que tenho uma relação onde as posições estão sempre demarcadas, onde Ele manda e eu devo obedecer...sempre! A minha rebeldia deixa de fazer sentido, funciona apenas como um rastilho que Ele usa como entender...

Depositar o meu ser nas mãos do meu Mestre e permitir que Ele escolha o melhor caminho para mim...nem sempre é fácil! Porque se às vezes eu não me conheço...como posso ter a certeza que Ele me conhece melhor do que eu? Eu confio Nele mas...nem sempre confio em mim!

No entanto...tenho a certeza que estou com a pessoa certa, em momento algum duvidei disso. É com o meu Mestre que vou crescer, é com as Suas orientações que vou chegar ao meu destino. Juntos percorreremos o caminho, alcançarei a entrega total e...como consequência a felicidade mais completa que alguém pode desejar... Servi-Lo é um privilégio que não posso descurar!

Obrigada Senhor, por tudo o que alcançamos em 30 dias e por tudo o que vamos alcançar no futuro. Espero que continue a guiar-me e a trabalhar para me tornar numa pessoa melhor...

Um bem haja ao meu Senhor e Mestre!

Sonho II

Sonhei com o meu Dono novamente! Era já tarde quando me convidou para sair e perguntou se estava disposta a ir a um sítio diferente. Fiquei a pensar onde seria mas rapidamente respondi que iria onde me quisesse levar, pois confio plenamente Nele. Já no carro informou-me que a ideia era irmos a uma casa de Swing, disse-me para não me preocupar e se, por algum motivo, me sentisse desconfortável para o avisar. Não coloquei qualquer obstáculo. Senti um formigueiro na barriga, um nervoso miudinho mas...ao mesmo tempo ansiava por descobrir como seria o sítio.

Paramos em frente a uma casa e disse-me que era só para eu ver como era...não iria fazer nada que eu não desejasse. Mesmo com algumas dúvidas concordei em entrar. Deu-me a mão, ainda bem porque me sentia meio trémula, e guiou-me até à entrada. Fomos recebidos simpaticamente por um casal que nos informou das regras da casa e nos guiou até uma sala ampla, de um lado um bar e do outro alguns sofás. No meio um varão em frente a uma lareira. A música estava alta e fazia lembrar os anos 80.

Dirigimo-nos para o bar e enquanto bebia admirava a cena que se passava perto de mim. Um casal fazia sexo no chão, sem tabus, em frente de uma pequena audiência sentada nos sofás ao fundo da sala. A sala estava pouco iluminada pelo que não conseguia perceber quem estava sentado e o que faziam. Admirei a cena durante algum tempo mas...não achei muito excitante... Pareceu-me demasiado forçado, sem sentimento... demasiado mecânico!

Algum tempo depois o meu Dono perguntou-me se queria visitar o resto da casa. Subimos ao primeiro andar e entramos nos quartos... Dois deles estavam ocupados por pessoas que partilhavam o corpo...apenas o corpo. Permanecemos num deles, onde uma mulher era partilhada por três homens. Encostamo-nos à parede e fiquei a observar em silêncio... talvez por agora juntar o som que emitiam, por ouvir o que diziam, por me aperceber da respiração ofegante, sentia-me mais excitada... No entanto era algo que não conseguiria igualar... A penumbra do quarto permitia que a minha imaginação ganhasse asas, tentando perceber o que realmente se passava à minha frente e adivinhando o que viria a seguir...

Meu Dono, sem nunca largar a minha mão, voltou a perguntar como me sentia e disse que se preferisse podíamos ir embora. Respondi que estava bem e que queria ficar mais um bocadinho... Imaginei-me no lugar da mulher e desejei um dia ser capaz de fazer o mesmo...partilhar o corpo sem receio, vivendo apenas o prazer.

Presenteei o meu Dono com carinho e deitamo-nos na mesma cama onde ficamos ambos a observar. De repente dou por mim sentada em cima do meu Dono. Sentia o pénis a crescer dentro de mim e estava a adorar o momento...gemia timidamente e apreciava o prazer que sentia. Era a primeira vez que fazia amor em frente a outras pessoas... a situação entusiasmava-me e o facto de continuar vestida tornava a cena ainda mais excitante... Ninguém me tocava, exceto meu Dono... a minha pele só sentia as Suas mãos. Continuava a ser apenas Dele! Ele reclamava a Sua posse e eu entregava o que já era Dele.

Permanecemos mais um pouco, deitados e abraçados, e continuei a observar o que se passava à minha volta. Depois descemos até ao bar onde me perguntou o que tinha achado. Respondi que ia de encontro ao que imaginava, e que me dá mais prazer mostrar do que ver! Agradeci o facto de não me partilhar. Bebemos mais uma bebida e abandonamos a casa.

Entramos no carro e logo no início da viagem de regresso...acordei!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sonho I

Tenho tido uns sonhos estranhos! Não são bem estranhos...são diferentes dos que costumo ter. Não tenho por hábito analisar sonhos, tentar descobrir o seu significado mas estes... gostava de entender não o seu significado mas as emoções que me despoletam!

Um deles começa num bar igual a tantos outros. Estou sentada numa mesa com pessoas que não conheço e ao meu lado está o meu Dono. Todos conversam e eu limito-me mais a ouvir, a tentar perceber o que o meu Dono sente e pensa naquele momento. Quero tocá-Lo, mimá-Lo mas tenho receio que não seja o local apropriado. Tenho de perceber que sou Sua submissa e não Sua namorada! Tento limitar-me a essa posição.
 
De repente meu Dono mete a mão por baixo da minha blusa, puxa os seios para fora do soutien e mostra-os publicamente. Orgulho-me das marcas que possuo e lamento não ter mais para mostrar. Estou contente por Ele me querer usar, por ter vontade de me ver, tocar e mostrar. Aperta-me os mamilos infligindo-me alguma dor que suporto com orgulho. Os seios são Dele e Ele faz com eles o que bem entender. Depois de brincar um bocadinho ordena que os recolha e depressa voltam para o seu lugar, escondo-os novamente com a esperança que Ele volte a querer tocá-los.

Algum tempo depois abandonamos o bar e paramos no meio de uma rua muito movimentada, há muitas pessoas paradas, a conversar em grupo, e outras que circulam de um lado para o outro, num frenesim de uma noite de verão. A agitação dos outros não me incomoda, eu estou em paz e tranquila porque estou com o meu Dono e nada mais me interessa senão provar-lhe que sou Dele.
 
À porta do bar meu Dono ordena-me que exponha os seios novamente e diz-me que a partir daquele momento deverei mantê-los dessa forma até ordem em contrário... Não penso duas vezes e limito-me a baixar as copas do soutien e, forçando o decote da blusa, coloco os seios à mostra. A sensação de estar no meio da rua assim exposta...excita-me! Agrada-me a vontade com que Lhe obedeço.

Começamos a caminhar pela rua e eu... gosto de sentir os meus seios expostos, os olhares de quem se apercebe, mas principalmente gosto que o meu Dono reclame a Sua posse, porque nesse pequeno ato demonstro-Lhe (e ao mundo também!) a quem pertenço. Cumprir aquela ordem dá-me um prazer imenso, estimula-me... 

Quando sonho com exposição, com nudez não costuma ser bem um sonho mas mais um pesadelo. A vergonha e o pudor apoderam-se de mim e eu só tento esconder-me mas...desta vez...foi diferente...deu-me mesmo gozo! Excitou-me de várias formas. Espero voltar a sentir o mesmo mais vezes, ter prazer em demonstrar a minha submissão.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Depois do castigo

Ontem foi dia de castigo, o que há dias me atormentava o pensamento já aconteceu. Não foi mau como imaginava...porque o meu Senhor é meu amigo e aplicou apenas a punição que achou conveniente e não a que eu pedi num momento de loucura! O meu Dono é justo e responsável e não se deixa levar pelos meus devaneios de heroína! Por isso confio Nele e o respeito.

Pela primeira vez, ontem, deu-me instruções sobre o que vestir para a sessão e isso...bem...por ser novidade fez-me recear e imaginar o pior... Achei logo que me iria testar e que me iria usar de forma diferente...Fui ao Seu encontro com a imaginação ao rubro mas...sem medo. E, pensando bem, até usou...conversamos muito durante a sessão, fez-me muitas perguntas, obrigou-me a pensar no futuro, no que quero para mim e para nós, e fez-me rir...

Uma das coisas que mais prazer me dá, quando estou com o meu Dono, é quando me aninho junto Dele... encaixo o meu corpo no Dele... é a minha nova zona de conforto! Sinto-me leve, desejada, aceite, protegida...feliz e em paz! O que mais me custa é deixá-lo partir... Ele diz que sou muito baunilha... talvez seja! Mas sou um pouco de tudo... e ser também baunilha não tem mal nenhum... até porque sei que Ele também gosta dos momentos abaunilhados!

Hoje, mal acordei, fui ver as marcas do meu corpo... não são muitas mas as que existem estão bem visíveis. Fiquei a olhar para elas durante algum tempo e a pensar como gosto de ser marcada... Primeiro porque significam a minha submissão/entrega perante o meu Dono, depois porque simbolizam o prazer que Ele extraiu de mim... Tenho orgulho em cada uma delas e lamento apenas que não durem mais tempo...

Depois de estar com Ele só me posso sentir grata por tudo o que Ele me proporciona. Obrigada meu Senhor, meu Mestre! Obrigada!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Castigo

Odeio castigos! Ser castigada é reforçar a ideia que errei e que o erro foi grave. Não chega uma chamada de atenção, não chega um sermão é preciso punir o ato para mostrar a seriedade do mesmo. Quem pune fá-lo porque não pode perdoar, porque não pode deixar o erro passar sem consequências.

Eu conheço as minhas obrigações para com o meu Dono e também sei que neste momento não são muitas. Exige-me muito pouco nesta fase inicial e falhar é tremendamente injusto. Mas às vezes, por um motivo ou outro, não consigo cumprir o pouco que me é exigido... porque as condições são diferentes, porque o que me rodeia não permite que o faça facilmente, porque algo se altera... Desculpas que não deixo de invocar mas que o meu Dono não quer saber.

O castigo varia, entre o físico e o psicológico, mas todo ele tem dor associada. A punição de hoje vai ser física. Já a conheço há uns dias, desde que errei, mas agora que está próxima a hora... fico agitada. Não espero perdão nem compaixão só espero conseguir suportar o castigo até ao fim e aprender com ele que o meu Dono está acima de tudo e não voltar a cometer o mesmo erro.

Também sei que a culpa é inteiramente minha, não cumpri a obrigação, não Lhe pedi para ficar isenta da mesma naquele dia nem sequer Lhe pedi desculpa por não a ter cumprido. Esperei que entendesse a minha situação simplesmente porque sim! Se tivesse apelado à Sua compreensão meu Dono teria com certeza livrado-me da mesma e não estaria agora nesta situação. E é por isso que mereço o castigo... por ter ignorado a obrigação até Ele ma ter recordado no final do dia. Fui desobediente inconscientemente.

Eu preferia sentir a dor que se avizinha como um desafio em vez de um castigo. Iria muito mais segura de mim mesma ao Seu encontro, mais confiante no meu caminho e crescimento. A vergonha que sinto por ter falhado, por não corresponder às Suas expectativas, pelo desrespeito que demonstrei em ignorar uma obrigação é quase suficiente para servir de punição! Meu Dono também preferia submeter-me à dor por prazer em vez de ser por punição.

Cada vez que eu falho...falhamos os dois. Eu porque não aprendi a lição, Ele porque não a ensinou convenientemente. E por isso... dói a ambos!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Revelar-me

Relacionar-me com pessoas nunca foi o meu forte. Demoro muito tempo para me revelar seja a quem for, por medo de ser mal compreendida, por timidez ou por achar que não tenho nada interessante para oferecer. Preciso de sentir confiança e segurança no outro para me revelar e isso, por norma, demora muito tempo. Não quer dizer que por vezes não me engane, que acabe por confiar sempre nas pessoas certas... não...às vezes erro no juízo mas aprendo com os erros.

Pela primeira vez tenho uma relação que exige uma entrega total e que não permite esconder nada, tudo tem de ser revelado para que a mesma funcione corretamente. Para poder crescer tenho de confessar os medos, as alegrias, as dúvidas, as certezas, os limites, os objetivos, etc., ao meu Dono. Mas não é fácil! Habituada a guardar muita coisa só para mim, ter de partilhar tudo é complicado. Não porque queira esconder mas porque temo revelar o desinteressante que há em mim!

Mas o que mais estranho nesta relação é o à vontade que tenho quando estou com Ele para demonstrar o que sinto. Nunca me vi como uma pessoa carinhosa e, no entanto, com Ele não me canso de o ser. Se tenho vontade de O acariciar, de O beijar... faço-o e sem qualquer receio. Toco-Lhe sempre que desejo, sempre que necessito de sentir a Sua pele na minha e... a melhor parte é que Ele sempre retribui o meu gesto. Isso aumenta a confiança em mim mesma e liberta uma parte de mim que nunca ousei mostrar.

Também estranho a facilidade com que deleguei Nele toda a responsabilidade. Normalmente gosto de controlar o que acontece, saber para onde vou e com o que contar, ter o poder de decisão do meu lado. Mas com o meu Dono isso não acontece...limito-me a segui-Lo. Não quero dizer que perdi a minha racionalidade mas... não sinto necessidade de a usar para ponderar cada momento. Não faço listas de prós e contras antes de agir... deixo-me guiar por Ele.

É óbvio que por vezes surgem dúvidas, porque tudo isto é novo para mim, porque nunca pertenci a ninguém mas... Ele está sempre disponível para me esclarecer, para me ajudar a compreender o que sinto e porquê. Só lamento não ser capaz de O questionar de imediato, ainda tento encontrar muitas respostas sozinha e isso faz-me perder tempo, deixa-me agitada desnecessariamente. 

Estamos juntos há muito pouco tempo... e já não consigo imaginar-me sem Ele a meu lado. Quanto mais próxima Dele melhor me sinto, mais confiante, segura, protegida e desejada. Sinto-me como nunca antes me senti.
 

terça-feira, 26 de julho de 2011

A dor da entrega

A entrega dói! Tanto física como psicologicamente, isso é um facto. Na minha curta experiência já senti estas duas vertentes de dor. Nem tudo é bom, nem tudo dá prazer mas a dor faz parte da aprendizagem e eu sabia-o ainda antes de começar a caminhar. É muito diferente da fantasia que vivia, onde tudo dependia da minha imaginação, onde só a minha vontade contava, que começava e terminava quando eu estipulava.

A dor física está implícita, não precisa de ser explicada. Quando a cana toca na pele e a marca...dói, quando a chibata cai repetidamente na mesma parte do corpo, quando a cera me queima, quando a minha carne é apertada, quando o meu corpo é explorado...dói. A dor faz parte da aprendizagem e eu só agora estou a aprender a lidar com ela. Ainda não a suporto muito bem e nem toda se transforma em prazer.

A dor psicológica também está muitas vezes presente. Algumas vezes relacionada com a dor física, como quando me questiono porque me sujeito à dor, porque permito que me magoem e continuo a disponibilizar o corpo para que seja usado. Outras vezes dói quando penso que já não me pertenço, que já não tenho a mesma liberdade que tinha antes, que embora possa ser totalmente independente sujeito a minha vontade à decisão do meu Dono.

Dói quando eu erro e o meu Dono não me deixa justificar, porque a minha justificação não vale de nada, o que importa é que não cumpri o que me tinha sido ordenado. Dói quando Ele entende o meu erro como desobediência, como se pretendesse desafiá-lo. Dói quando me apercebo que o desiludi e vejo a tristeza no seu olhar quando me castiga.

Há muitos momentos de dor! Quando me pede mais do que consigo entregar. Quando duvida das verdades que lhe conto, quando joga com a minha mente, quando procura libertar o que ainda guardo dentro de mim... Quando tenta chegar ao fundo da minha alma. Quando me põe à prova e testa sem eu saber. Quando exige que confie nele sem questionar.

Mas toda essa dor deixa de ter importância tendo em conta o prazer que o meu Dono me proporciona. Porque depois da dor vem sempre o prazer, o carinho, o afeto com que Ele me recebe e cuida de mim. Porque depois da dor me abraça e consola, agradecendo a minha entrega. Porque sei que me respeita e tudo o que faz é para que cresçamos juntos.

A dor está presente, sim. Está presente em mim que me dou e Nele que me recebe.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Escrever sem Alma

Não gosto nada de ser chamada à atenção! Custa-me aceitar os fracassos e ainda mais quando tento dar o meu melhor. Escrever é um passatempo que já tenho há muito tempo, que me dá prazer e me ajuda a refletir. Saber que a mensagem não chega como a idealizo é-me difícil de aceitar. Mas valorizo quem tem a capacidade de analisar o que escrevo e criticar de forma construtiva.

Meu Dono já me tinha dito que escrevo bem mas...sem alma! Que não coloco a minha essência no que escrevo, que escondo parte de mim. Hoje, após publicar o último post chamou-me de incompetente, porque escreve-se agradar ao Dono e não agradar o Dono (corrigido entretanto) e disse ainda que o meu texto era seco, além da ausência da alma não tinha sumo! Não é a primeira vez que mo diz e cada vez fico mais triste por não conseguir demonstrar o que me vai na alma. O maior castigo é a sensação de fracassar perante o meu Dono, desiludi-Lo é o que mais pesa na minha alma.

Mas a verdade é que a minha alma está confusa, muita coisa aconteceu em pouco tempo, e a mudança, embora sentida no meu íntimo, não me é fácil de exprimir por palavras, porque é tudo muito novo para mim, sinto que estou a viver pela primeira vez e não reconheço os sentimentos, a única certeza é que nunca me senti tão bem e tão completa.

Não pretendo justificar-me, nem fugir ao castigo, quis tão somente demonstrar a importância das palavras do meu Dono que enviou-me o texto, que passo a transcrever:

"ACORDA ANA!

Olá putinha submissa à deriva:

A ausência de alma nos teus textos, efetuados como de uma reportagem sublimar se tratasse, leva-me a que publiques no teu blogue este meu texto, ao jeito de comentário. É o meu desejo e espero ser obedecido!

Acorda ana! Faz jus ao título do teu blogue!

Arregaça as mangas e vive, acorda de rompão e vê a luz que brilha lá fora, as pessoas que vivem, lutam e gritam. É a vida em toda a sua plenitude. Não te deixes ficar na penumbra do quarto, levanta-te e caminha. Corre para a tua janela, abre-a e grita. Faz ouvir a tua voz e que toda a gente saiba que queres viver e ser feliz. Agora que já te deste conta que a submissão e a entrega é o caminho para a tua libertação, vem em frente, pega o touro da vida pelos cornos, como o melhor forcado em uma arena.
Alegra-te com a dor, chora com o prazer, sorri ironicamente para os profetas da desgraça, ri com os contrastes da vida.

Não escreves mal, antes pelo contrário, mas falta-te alguma alma no que escreves. Não basta apenas utilizar bem o verbo, reportar sítios, pessoas ou sentimentos, expor a tua vontade publicamente, falares sobre a tua entrega. Escrever bem é seres honesta contigo própria e com os outros. É tua obrigação fazer isso tudo com alma. Com competência! Muita alma... toda a alma, dizes tu num texto publicado algures...

É verdade, reclamo o que é meu porque o tomei! Não peço licença para tomar o que me pertence, o que me entregaste. Mas, nem tudo é ainda meu. Sei disso, aceito isso como um desafio. E eu adoro desafios!

Nunca gostei de coisas fáceis, entregas imediatas, confissões de submissão muitas das vezes sem a submissa saber onde se vai meter, em que mãos e cérebro se vai colocar. Às vezes até é por moda.
Entrega e dominação não são fáceis. Nem para quem se submete, nem para quem domina. A entrega é um processo contínuo, doloroso, muitas das vezes contrário à educação que foi imposta. A dor da mudança dói. A entrega dói. O libertar das amarras baunilha dói.

Dominar também dói. Se for dominação séria, e não apenas umas meras sessões em o que existe é um saber empírico acumulado, dói ao dominador cerebralmente. Dominar muda o dominador. Faz ele se questionar. Pensar no bem-estar físico e intelectual de quem domina, mas também o faz crescer não apenas como dominador mas igualmente como pessoa.
Não existe uma forma de dominar duas submissas diferentes, pelo mesmo dominador, com métodos iguais. São pessoas diferentes e um dominador nunca se pode esquecer que antes de sermos o que formos, somos antes seres humanos.

Agrada-me a tua entrega, as tuas tentativas de fazer o que é correto, a tua ânsia de aprender, o teu desejo de fazer o correto. Gosto das tuas falhas, porque me dão oportunidade de te castigar e corrigir. Orgulho-me do caminho que percorreste neste período curto de tempo – que se conta por dias – porque sei que esse é o caminho que te vai fazer mais feliz.

Como o título do texto estava mal escrito, no post que publicaste anteriormente, obrigando-me a corrigir-te, podes contar com um castigo.
Se não tivesses competência para escrever bem, não te castigava, mas saber escrever e dar calinada, seja de que tipo for chama-se incompetência e, se existem coisas de que eu não gosto, é de incompetência.

Teu Mestre
Z"

Agradar ao Dono

Podia falar sobre a festa, sobre as pessoas que conheci, as conversas que troquei ou sobre os conhecimentos que adquiri mas... o mais importante da festa para mim foi ter agradado ao meu Dono e os momentos vividos a dois.

Gostei do olhar embevecido do meu Dono quando me viu preparada para a festa, o sorriso que esboçou disse com sinceridade o que só mais tarde admitiu por palavras. Ele sabe que foi por ele que me transformei numa verdadeira "fêmea", para lhe agradar e para que pudesse se orgulhar ainda mais de mim.

Durante o jantar esteve sempre preocupado com o meu bem-estar e questionou-o várias vezes. Eu estava ótima... estava com ele e sentia-me orgulhosa. É bom, em todos os sentidos, ser Dele. A minha única preocupação era satisfazer as suas expectativas, tudo o resto era irrelevante.

Na festa esteve sempre presente, mesmo nos momentos em que me permitiu ausentar, sabia-o comigo. Apresentou-me aos amigos e partilhou histórias, fez-me sentir o respeito que tem por mim e a confiança que deposita em mim. Durante todo tempo só me preocupei com Ele e se O estava a servir convenientemente.

Mas o melhor, o momento que ansiei todo o dia e toda a noite, veio depois. Sozinhos, sem barreiras nem obstáculos, permitindo-me servi-Lo livremente, entregando-lhe corpo para que o usasse da forma que bem entendesse. A mente sossegou quando teve a certeza que Ele me desejava tanto como eu a Ele e que continuamos juntos partilhando o mesmo caminho. 

O teste a que me submeteu foi superado e Ele continua a reclamar a sua posse sobre mim e isso deixa-me feliz e em paz. O diálogo mantém-se e cada vez é mais intenso.

Adormecemos os dois e nunca me sentira tão confortável, consolada, satisfeita e realizada.

sábado, 23 de julho de 2011

Teste

Chegou o dia do meu teste, meu Dono vai-me testar e a nossa relação vai depender de mim. Espero superar o teste e que no fim da noite Ele sinta orgulho em mim e que pretenda continuar a caminhar a meu lado. Não tenho qualquer protocolo a seguir, nem tão pouco linhas base de orientação, meu Dono quer que seja eu própria e deu-me liberdade para agir da forma que eu entender.

Eu preferia ter algumas regras, ter combinado alguns sinais, ter forma de saber no momento se Ele está contente comigo ou não. Mas percebo a importância de não as ter. Conhecemo-nos há quinze dias e Ele quer, antes de se impor, conhecer-me. Ao mesmo tempo estará a avaliar a minha entrega através do meu comportamento e atitude. Eu serei "eu", agirei como sempre mas... com Ele no pensamento. Quero muito continuar a Seu lado e que este aniversário do BDSM seja apenas o primeiro entre muitos a celebrar juntos.

Tenho aprendido tanto nestes últimos dias... sinto-me tão bem quando estou com Ele... Nunca me senti tão desejada, tão importante e adoro essa sensação. Adoro quando me toca, quando sinto a Suas mãos na minha pele, quando me olha nos olhos, quando diz que me deseja... Ouço-O sempre com atenção mas há tanto para aprender que às vezes acho que não consigo absorver tanto ao mesmo tempo (porque sinto o que diz!). Sei que cada vez lhe entrego mais, de dia para dia conquista mais um bocadinho de mim e à medida que a confiança aumenta tenho vontade de entregar ainda mais...

Pela primeira vez sinto-me completa, dou mas também recebo. Sinto-me acompanhada mesmo na Sua ausência e isso... é muito bom! É tão bom que quase não tenho tempo para escrever, nem necessidade de o fazer. Tenho-me libertado de outra forma! 

Agora vou tratar de mim, quero estar perfeita para Ele e servi-Lo com toda a devoção. Quero que tenha vontade de me possuir no final da noite!

terça-feira, 19 de julho de 2011

A entrega do corpo

Na noite que me deixei imobilizar na cruz, e entreguei o meu corpo às sensações, foi o Dom que me serviu (não vou mentir, foi assim que o vi), não lhe entreguei verdadeiramente nada (como podia? tinha acabado de o conhecer!) apenas permiti que ele usasse o meu corpo para me fazer sentir o que tanto ansiava. Foi um momento egoísta, enquanto durou só pensei em mim e no que estava a sentir. A descoberta da dor, a reação do meu corpo à mesma e especialmente a reação da minha mente ao sujeitar-me, conscientemente, a ela. Nem sequer pensei se o Dom estaria a ter prazer, o que me importava era o que eu sentia.

Cada vez que sentia um pingo de cera ou o flogger em contacto com a pele o que sentia era dor e não prazer e por isso o meu corpo tentava-se proteger, tentando recuar, afastar-se do objeto que me magoava. Mas a mente, pelo contrário, sentia prazer nessa dor e ansiava por mais, quanto maior a dor mais prazer sentia. Tentar perceber esta relação, dor física e prazer mental, ocupou-me grande parte do tempo e continuo sem a perceber muito bem. A única certeza é que gosto do prazer que sinto depois da dor.

A vontade de conhecer o Dom, que me ajudou a testar quem sou, só surgiu no momento em que ele manifestou vontade de me conhecer também. Após alguma hesitação acabei por aceitar um encontro (não para um café e uma chibata!) para um café e uma conversa. Conhecer alguém que já conhecia o meu corpo, que já me tinha tocado e proporcionado prazer, era algo estranho. Quando me olhava sentia-me despida. E, se por um lado sentia vergonha, por outro sentia-me à vontade para desejar que me voltasse a tocar.

Não fui "eu" quem o escolheu, foi aquela parte de mim que mantinha aprisionada: o corpo. Não sei se foi uma reação química ou física mas desejava ser usada por ele, entregar-lhe o corpo que não entreguei da primeira vez. Já não era só um teste, era desejo de me submeter à sua vontade, de me entregar nas suas mãos e permitir que usasse o meu corpo para despertar novas sensações. Já não pensava só no meu prazer mas no prazer que ambos poderíamos alcançar através do meu corpo.

A entrega acabou por acontecer e ele recebeu o corpo desejoso por receber tudo o resto. Entreguei-o com determinação em servi-lo o melhor possível e, surpreendentemente, o corpo é-lhe obediente mesmo quando a mente ainda duvida da submissão. Estou a aprender a entregar mas também a receber, as marcas simbolizam essa aprendizagem e o prazer. Espero um dia entregar-lhe mais e que ele receba com o mesmo desejo e carinho a minha mente, a minha alma, a minha vida.

Mas o caminho é difícil, toda a vida fui independente, demasiado racional e um pouco rebelde. O conflito interior, entre mente, espírito e alma esteve sempre presente. Pretendo encontrar o equilíbrio e apaziguar o meu ser através da minha submissão, crescendo com ela e acreditando que o meu Dono fará de mim uma pessoa melhor, mais completa, mais serena e preparada para a vida.

Tenho pela frente muitas etapas a percorrer e pretendo passar por todas devagar, saboreando cada uma delas, para que no final sinta o gosto doce da entrega total.

sábado, 16 de julho de 2011

Corpo com alma

Desde que me lembro que procuro alguém que conquiste o meu coração para me entregar de corpo e alma. Até hoje essa entrega não foi possível (faltou sempre algo) mas a vontade esteve sempre presente. Mesmo quando me isolei do mundo, por achar que amar e ser amada não fazia parte do meu destino, mantive sempre uma réstia de esperança.

O meu coração foi conquistado algumas vezes mas raramente o suficiente para entregar o corpo e ainda menos a alma. Porque não escolhemos por quem nos apaixonamos, porque simplesmente acontece, o meu coração enamorou-se, quase sempre, por quem (por uma razão ou várias) eu sabia não ser a pessoa certa. Mesmo nos momentos de maior loucura e de desejo, comuns na paixão, consegui sempre manter alguma lucidez e a racionalidade nunca me abandonou por completo.

Toda a minha racionalidade fez com que experimentasse várias emoções mas poucas sensações. Senti muito com alma e pouco com corpo. Mas a alma está cansada de sentir sempre o mesmo e, a continuar assim, corre o risco de adoecer e não posso deixar isso acontecer.

Decidi então partir à descoberta das sensações, permitindo que o meu corpo se entregasse. Não me entrego de corpo e alma, para já, mas entrego o corpo que está intimamente ligado à minha alma. É através dele, e das sensações por ele sentidas, que espero alimentar a alma e crescer.

Ao entregar o corpo à minha vontade, e à do outro, acabo por entregar muito mais que o corpo. Entrego uma parte de mim, da pessoa que sou e da minha personalidade. O corpo é uma forma de me expressar, dos outros me "lerem" e não posso viver sem ele, por isso é tão importante para mim. Pretendo conhecê-lo melhor e descobrir todas as suas potencialidades mas devagar e sempre com respeito. Respeitando o corpo respeito a pessoa que sou, aumenta a confiança e a entrega é cada vez maior.

Ainda não entrego a alma mas... entrego o corpo com alma e quem o recebe não pode esquecer-se disso. Respeitando o corpo respeita-me a alma, que lhe posso vir a entregar, e permite-me que o sirva com mais devoção.




















quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sensações

Depois da primeira sessão o que resta? A memória prazerosa do primeiro passo, uma vontade ainda maior de começar a caminhar e a certeza que não posso voltar a induzir-me em coma. Restam ainda as marcas visíveis da cera, dos beijos que me queimaram a pele, e as invisíveis que me aproximam do meu destino.

Percebi que não estou preparada para o turbilhão de sensações que se avizinha, que muitas delas serão sentidas pela primeira vez, mas estou cheia de vontade para as sentir. Despertei para o mundo dos sentidos e a procura das  emoções já não impera. Quero aproveitar esse novo mundo e descobrir tudo o que tenha para me dar: do prazer à dor.

As sensações ganharam importância, cresce a vontade de sentir não só com a alma mas também com o corpo. Usar os cinco órgãos sensoriais: olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. Sentir e deixar o cérebro processar as impressões recebidas pelos sentidos sem ter de acrescentar a fantasia para alcançar o prazer. Deixar-me inebriar pelo que é real, verdadeiramente experienciado.

Quero aprender a libertar o corpo, permitir que receba estímulos exteriores e obter prazer com os mesmos (com o frio, o calor, as texturas, a pressão, o doce, o amargo, etc.). Aumentar a sensibilidade, a capacidade de sentir e aprender a reagir aos estímulos conforme a sua intensidade, duração e qualidade.

Vou deixar a alma usar o corpo para crescer. O corpo recebe o estímulo mas é a alma que o compreende e define. O que determinado estímulo provoca em mim depende também do meu estado de alma, a sensação é mutável em consequência dessa interação. Há uma panóplia de sensações por descobrir!

Percebo agora que perdi demasiado tempo ao procurar emoções puras, ao querer sentir só com a alma. A partir de agora procurarei as sensações físicas para despoletar as emoções e dessa forma crescer e evoluir.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Início IV - A primeira sessão

Paramos em frente à Cruz de Santo André e o Dom perguntou: "Estás bem?". Sim, respondi. Indicou-me as suas safewords, uma para interromper e conversar e outra para terminar. Disse-me para tirar o casaco e fi-lo sem hesitar, para tirar a blusa e fi-lo com alguma hesitação, e por fim o soutien e... lamuriei, baixinho, emitindo apenas um som que demonstrava vontade mas alguma vergonha. "Eu tiro-o." Respondeu ele, colocando-se por trás de mim e desapertando os colchetes. Ali estava eu exposta, da cintura para cima, para ele e para todos os outros que me observavam no fundo da sala, confortavelmente sentados em silêncio.

Preocupado comigo, sabendo que era a minha primeira vez, colocou-me uma venda para que pudesse  aproveitar as sensações sem ter de me preocupar com o olhar dos outros. Encostou-me à cruz, senti o corpo dele encostado ao meu, enquanto me perguntava baixinho, ao ouvido, se estava bem. Era a primeira vez, ao fim de muito tempo, que eu permitia que um Homem chegasse tão perto de mim. 

Mandou-me abrir as pernas e prendeu-me pelos tornozelos à cruz. Pegou na minha mão direita, acarinhou-a e de seguida levantou-a para me prender, pelo pulso, à cruz. Senti pela primeira vez a corda a roçar a pele, a sua textura de início macia mas que ao envolver o pulso se tornou mais abrasiva. Ouvi o som que emitia cada vez que dava uma volta para me prender e excitou-me. Depois foi a vez da mão esquerda. Estava imobilizada de livre vontade. Toda eu tremia, parecia que a qualquer momento ia perder a faculdade de me manter de pé!

Segredou-me ao ouvido que a partir daquele momento o nome dele era "Senhor", se o tinha compreendido e mais uma vez questionou o meu bem-estar. Colocou-me uma coleira e perguntou se eu sabia o seu significado: naquele momento era uma cadela.

Acariciou o meu peito e colocou molas nele. Provocou em mim a sensação a que eu tantas vezes me sujeito. Mas, de alguma forma, a mesma sensação era diferente! 
Depois foi a vez da língua sentir a pressão das molas e ser obrigada a manter-se fora do seu abrigo. Sem nada ver, ainda a lidar com a dor das molas, apenas senti a cera a cair no meu peito e gostei do toque quente da mesma. A mão dele ia me acariciando, tocando-me ao de leve o corpo ou apertando-me a carne enquanto a cera continuava a beijar-me.

Quando pensava que estava prestes a terminar, pois já tinha sentido na pele o que anteriormente tinha mencionado como o que mais gostava, senti o flogger, primeiro assinalando a presença e depois atingindo-me com mais força, aquecendo-me a pele. O som quase em simultâneo ao toque não me deixava adivinhar e sentia-o onde não o esperava. A surpresa do contacto rápido deixava-me ansiosa pelo próximo.

Já sem as molas voltei a sentir o calor da cera, pingos que se fundiam em mim, beijos ardentes que me faziam contorcer de prazer, aumentando a minha excitação, estimulando o meu corpo e mente. Não conseguia adivinhar que carícia sentiria a seguir: a da cera ou a da mão do Senhor... Novamente o flogger, agora para retirar a cera que solidificara na minha pele, um afago mais sentido, mais desejado.

Depois soltou-me da cruz, com carinho, e ordenou-me que me colocasse de quatro. Não foi fácil encontrar o equilíbrio necessário mas por fim, lá estava eu, que nem uma cadela a passear pela sala. Agora podia ver e olhava os outros com alguma vergonha, mas ao mesmo tempo orgulhosa por estar a fazer algo que nunca imaginei. O momento apelou ao meu exibicionismo, tantas vezes fantasiado e desejado nos momentos íntimos de maior perversão.

Quando acabou o passeio, retirou-me a coleira, agradeci ao Senhor e vesti-me. Regressei para junto dos que antes me observavam. Ainda tremia, nunca deixara de tremer, e precisava rapidamente de um cigarro para recuperar da excitação do momento. Conversei com o Dom que me considerou bem para a primeira vez e me deu alguns conselhos. Felicitaram-me pelo momento, pelo passo que acabara de dar e quiseram que partilhasse o que sentia.

Gostei! Senti-me bem e tive prazer em ser obediente, em me colocar à disposição do outro e do desconhecido. Adorei as sensações do corpo, o prazer físico e, principalmente, senti-me orgulhosa e submissa.

E se alcancei todo este prazer baseado só na confiança, que poderei atingir quando acrescentar o Amor?

domingo, 10 de julho de 2011

Início III

"Serve livremente e não serás servo." - Menandro

Sábado à noite e mais um convite para me juntar à comunidade BDSM do Porto, na HausofSylvia: um café, boas pessoas para conversar e aprender. Desta vez comprometi-me a aparecer mas, depois de um dia dedicado aos outros, ao início da noite a vontade de sair de casa não era muita. Adiei até ao último momento, até me convencer que estava na hora, e sem criar expectativas conduzi-me, sozinha, até ao meu destino.


Fui das primeiras pessoas a chegar, tomei café, fumei uns quantos cigarros e fui conversando com quem por lá se encontrava: dois Dons, uma Domme e um sub. Conversa agradável, sem grande formalismo (o que me deixa sempre mais à vontade), com alguns momentos divertidos. Dediquei especial atenção a um dos Dons, mais velho, "veterano", mas bastante acessível, que me questionou sobre o meu percurso e expectativas. Respondi sempre com sinceridade e ouvi-o atentamente. Mais pessoas foram chegando, já os conhecia quase todos, e o grupo de "debate" alargou-se. O tema incidiu sobre a dificuldade de um novato, como eu, integrar-se na comunidade e iniciar-se.


Algumas horas depois, já com menos pessoas, a conversa fluía e a atenção recaía me mim. Eu tentava explicar a minha relutância, receio e desconfiança. Não conhecera ainda um Dom em quem confiasse o suficiente para testar a minha submissão. A vontade era muita mas o único a quem a quis entregar não a aceitou. Foi nessa altura que o Dom com quem tinha conversado inicialmente se levantou, pegou na minha mão e perguntou: "Confias em mim?". Olhei em redor e reparei que todos os presentes me observavam aguardando a minha resposta. Era o teste que tanto ansiava e a minha submissão dependia da minha resposta.


Como se precisasse de autorização para entregar o que é meu, o corpo, esperei pela aprovação de uma sub minha amiga que, só com um olhar cúmplice, me disse: "Vai! Aproveita. Estás em segurança e podes confiar". O momento de decisão pareceu-me longo mas na realidade passaram-se apenas uns segundos. Tinha a certeza que nada de mal me iria acontecer, senti-me protegida pelos presentes e sabia que, naquele momento, podia confiar no Dom.

Pousei o cigarro que acabara de enrolar e levantei-me. O Dom ainda segurava na minha mão e levou-me com ele. Enquanto caminhava pensava no passo que estava a dar, no que podia acontecer a seguir e até que ponto a minha vontade me permitiria entregar o corpo a quem não conhecia, a quem não tinha conquistado a minha alma. Receei fugir, não ter coragem, falhar.


Mas a vontade era muita, o desejo ainda maior, e mesmo desconhecendo o que me esperava, terminei o caminho segura e confiante, com a certeza que o meu momento havia chegado.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mensagens

Desde que criei a anag que tenho vindo a trocar mensagens com várias pessoas. Nessas trocas conheci pessoas interessantes que, tal como eu preocupam-se com o conteúdo das mesmas. São pessoas com quem facilmente me identifico, quanto mais não seja, por partilharem o prazer da escrita. Muitas vezes percebo de imediato que não são quem procuro mas dialogo, porque as conversas interessam-me e estimulam-me mentalmente.

No entanto há pessoas que logo na primeira mensagem enviada suscitam o descrédito total. São aquelas que não dizem nada exceto o endereço do MSN. O que as leva a pensar que vou adicionar aos meus contactos alguém que desconheço totalmente? No início ainda fazia um esforço e respondia questionando porque pretendiam falar comigo, o que achavam ter em comum para me quererem adicionar aos seus contactos. A resposta, na maior parte das vezes, era tão vazia de conteúdo como a primeira mensagem.

Outras há que, embora digam pouco, me levam a responder e a tentar descobrir se partilhamos algo. Depois de um breve resumo sobre o que ambos procuramos logo concluímos se nos identificámos. Faço sempre questão de alertar que procuro uma relação e não engate fácil ou sessões, alguém que me estimule mentalmente e que a parte psicológica da D/s é o que mais me fascina. A maior parte das vezes a resposta insiste na parte física como a base destas relações. Discordo, só depois de me conquistarem a alma terão acesso ao meu corpo. Não volto a ler mensagens destas pessoas (deve-se ler "Dons").

Raras vezes o diálogo mantém-se e a resposta do outro parece coincidir com o que procuro, indicam ter sido esse o motivo que levou ao contacto inicial, a procura da pessoa certa, bem como os fetiches mencionados no perfil e o que escrevo no blogue. Agradeço a gentileza de me lerem e de tentarem conhecer-me pelo que escrevo. Depois vem, normalmente, a primeira desilusão, a questão da praxe: como descobri o BDSM? A resposta está no blogue que indicaram ler com atenção! A descoberta da tendência submissa também está lá minimamente descrita. Mas acredito que os meus textos possam parecer longos e que por isso os leiam na "diagonal" e, assim, faço um resumo sobre essas descobertas.

Normalmente o outro passa de imediato para a parte prática, um dissertar sobre os seus fetiches (quase todos indicados no seu perfil!) e terminam questionando o que penso deles (é a segunda questão da praxe). A resposta varia conforme os fetiches mencionados e forma como foram descritos. Por vezes despeço-me educadamente (sempre que deteto brejeirice), outras limito-me a responder que, depois da alma conquistada, sou capaz de experimentar tudo o que possa agradar ao meu Dom, independentemente de achar se vou, ou não, ter prazer com a prática (o meu prazer estará no prazer que proporciono ao outro).

Insatisfeitos com a resposta, insistem para que identifique algumas práticas que me atraem. Elas são muitas mas entendo que não as deva revelar de imediato. Se quisesse que todos e qualquer um as conhecessem colocá-las-ia na lista de fetiches do meu perfil. A insatisfação causada pela minha resposta levanta a questão da minha submissão. A provocação não tarda: se não respondo a algo tão simples se calhar não sou submissa; como quero que me possuam a alma se não sou capaz de mencionar o que o meu corpo deseja?

Se eu não conto a todos os amigos que desejo submeter-me a um Dono porque hei-de confessar os desejos do meu corpo a desconhecidos? Tudo a seu tempo! Conquistem-me a alma (ou pelo menos a mente), ou, no mínimo, saibam esperar pelo momento certo para colocar essa questão, e saberão os segredos que escondo!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Provocação

No processo de descoberta que iniciei, no maravilhoso mundo do BDSM, tive oportunidade de conhecer algumas pessoas tremendamente interessantes e que pretendo integrar no meu círculo de amizade. Uma dessas pessoas é um Dom pelo qual sinto uma ligação que não sei definir mas em quem confio a minha vida e respeito profundamente.

Esse Dom, que não é meu, ajuda-me mais do que imagina e quase tudo o que sei devo a Ele. Tem-me orientado através das reflexões a que me obriga, sem no entanto impor-me as Suas conclusões. Admiro-O por isso, por nunca me ter forçado a nada e pela Sua preocupação por mim ser genuína. Talvez por isso acabe por influenciar o meu comportamento, atitude e escolhas mesmo quando está ausente. Para não errar penso sempre no que Ele faria, no que Ele respeitaria que eu fizesse.

Ele é conhecedor da minha demanda pelo amor e da forma como a encaro. É conhecedor dos meus motivos, desejos, medos, limites, expectativas... Por isso não percebo a Sua última sugestão. Ao perceber que ainda não encontrei com que iniciar uma relação, indicou-me alguém que nada tem a ver comigo, com o que procuro. Estranho essa sugestão porque a mesma não faz qualquer sentido para mim.

Depois de sempre me aconselhar a procurar alguém próximo de mim sugere que meta conversa com alguém que se encontra a 300kms! Para ver se desenvolve algo... e se desenvolver? A probabilidade de a relação evoluir com a distância é mínima!
Sugere-me um Switch e não um Dom! Que faço nos momentos em que ao outro lhe apetecer ser sub? Bem sei que às vezes sou insubmissa mas... a minha rebeldia não é suficiente para submeter ninguém. Permito a introdução de um terceiro elemento? Não frisei vezes suficientes que pretendo uma relação vivida só as dois?
Um inexperiente? Eu que tanto apregoo a necessidade de orientação a "conduzir" uma relação? Os meus conhecimentos são apenas teóricos. Eu que nem como baunilha tive sucesso? Não! Eu sei, Ele sabe, que preciso de ser orientada para chegar onde me proponho.
Ainda por cima, indica-me alguém dez anos mais novo? A mim, que desde sempre tive inclinação para homens mais velhos! Que fantasio com um "dono" trinta anos mais velho...

Não sei em que estava a pensar quando fez a dita sugestão. Talvez tenha-Se enganado e enviado a mensagem certa mas para a pessoa errada. Já toda a gente deve saber que procuro alguém com quem partilhar a vida, que esteja presente e com quem possa dialogar constantemente. A proximidade é de facto importante para mim, só assim posso aprender a confiar, a respeitar, a conhecer o outro e submeter-me. Para ser dominada psicologicamente preciso da presença constante do outro.

Para "dono" ausente tenho o das fantasias. Para obter prazer físico tenho as minhas mãos, uns brinquedinhos e a minha imaginação. Se é suficiente? Não! Da mesma forma que alguém a 300kms nunca será!

A questão que se levanta, e para a qual ainda não obtive resposta é: Os Dons também se enganam ou simplesmente gostam de provocar?