terça-feira, 19 de julho de 2011

A entrega do corpo

Na noite que me deixei imobilizar na cruz, e entreguei o meu corpo às sensações, foi o Dom que me serviu (não vou mentir, foi assim que o vi), não lhe entreguei verdadeiramente nada (como podia? tinha acabado de o conhecer!) apenas permiti que ele usasse o meu corpo para me fazer sentir o que tanto ansiava. Foi um momento egoísta, enquanto durou só pensei em mim e no que estava a sentir. A descoberta da dor, a reação do meu corpo à mesma e especialmente a reação da minha mente ao sujeitar-me, conscientemente, a ela. Nem sequer pensei se o Dom estaria a ter prazer, o que me importava era o que eu sentia.

Cada vez que sentia um pingo de cera ou o flogger em contacto com a pele o que sentia era dor e não prazer e por isso o meu corpo tentava-se proteger, tentando recuar, afastar-se do objeto que me magoava. Mas a mente, pelo contrário, sentia prazer nessa dor e ansiava por mais, quanto maior a dor mais prazer sentia. Tentar perceber esta relação, dor física e prazer mental, ocupou-me grande parte do tempo e continuo sem a perceber muito bem. A única certeza é que gosto do prazer que sinto depois da dor.

A vontade de conhecer o Dom, que me ajudou a testar quem sou, só surgiu no momento em que ele manifestou vontade de me conhecer também. Após alguma hesitação acabei por aceitar um encontro (não para um café e uma chibata!) para um café e uma conversa. Conhecer alguém que já conhecia o meu corpo, que já me tinha tocado e proporcionado prazer, era algo estranho. Quando me olhava sentia-me despida. E, se por um lado sentia vergonha, por outro sentia-me à vontade para desejar que me voltasse a tocar.

Não fui "eu" quem o escolheu, foi aquela parte de mim que mantinha aprisionada: o corpo. Não sei se foi uma reação química ou física mas desejava ser usada por ele, entregar-lhe o corpo que não entreguei da primeira vez. Já não era só um teste, era desejo de me submeter à sua vontade, de me entregar nas suas mãos e permitir que usasse o meu corpo para despertar novas sensações. Já não pensava só no meu prazer mas no prazer que ambos poderíamos alcançar através do meu corpo.

A entrega acabou por acontecer e ele recebeu o corpo desejoso por receber tudo o resto. Entreguei-o com determinação em servi-lo o melhor possível e, surpreendentemente, o corpo é-lhe obediente mesmo quando a mente ainda duvida da submissão. Estou a aprender a entregar mas também a receber, as marcas simbolizam essa aprendizagem e o prazer. Espero um dia entregar-lhe mais e que ele receba com o mesmo desejo e carinho a minha mente, a minha alma, a minha vida.

Mas o caminho é difícil, toda a vida fui independente, demasiado racional e um pouco rebelde. O conflito interior, entre mente, espírito e alma esteve sempre presente. Pretendo encontrar o equilíbrio e apaziguar o meu ser através da minha submissão, crescendo com ela e acreditando que o meu Dono fará de mim uma pessoa melhor, mais completa, mais serena e preparada para a vida.

Tenho pela frente muitas etapas a percorrer e pretendo passar por todas devagar, saboreando cada uma delas, para que no final sinta o gosto doce da entrega total.

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