terça-feira, 26 de julho de 2011

A dor da entrega

A entrega dói! Tanto física como psicologicamente, isso é um facto. Na minha curta experiência já senti estas duas vertentes de dor. Nem tudo é bom, nem tudo dá prazer mas a dor faz parte da aprendizagem e eu sabia-o ainda antes de começar a caminhar. É muito diferente da fantasia que vivia, onde tudo dependia da minha imaginação, onde só a minha vontade contava, que começava e terminava quando eu estipulava.

A dor física está implícita, não precisa de ser explicada. Quando a cana toca na pele e a marca...dói, quando a chibata cai repetidamente na mesma parte do corpo, quando a cera me queima, quando a minha carne é apertada, quando o meu corpo é explorado...dói. A dor faz parte da aprendizagem e eu só agora estou a aprender a lidar com ela. Ainda não a suporto muito bem e nem toda se transforma em prazer.

A dor psicológica também está muitas vezes presente. Algumas vezes relacionada com a dor física, como quando me questiono porque me sujeito à dor, porque permito que me magoem e continuo a disponibilizar o corpo para que seja usado. Outras vezes dói quando penso que já não me pertenço, que já não tenho a mesma liberdade que tinha antes, que embora possa ser totalmente independente sujeito a minha vontade à decisão do meu Dono.

Dói quando eu erro e o meu Dono não me deixa justificar, porque a minha justificação não vale de nada, o que importa é que não cumpri o que me tinha sido ordenado. Dói quando Ele entende o meu erro como desobediência, como se pretendesse desafiá-lo. Dói quando me apercebo que o desiludi e vejo a tristeza no seu olhar quando me castiga.

Há muitos momentos de dor! Quando me pede mais do que consigo entregar. Quando duvida das verdades que lhe conto, quando joga com a minha mente, quando procura libertar o que ainda guardo dentro de mim... Quando tenta chegar ao fundo da minha alma. Quando me põe à prova e testa sem eu saber. Quando exige que confie nele sem questionar.

Mas toda essa dor deixa de ter importância tendo em conta o prazer que o meu Dono me proporciona. Porque depois da dor vem sempre o prazer, o carinho, o afeto com que Ele me recebe e cuida de mim. Porque depois da dor me abraça e consola, agradecendo a minha entrega. Porque sei que me respeita e tudo o que faz é para que cresçamos juntos.

A dor está presente, sim. Está presente em mim que me dou e Nele que me recebe.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Escrever sem Alma

Não gosto nada de ser chamada à atenção! Custa-me aceitar os fracassos e ainda mais quando tento dar o meu melhor. Escrever é um passatempo que já tenho há muito tempo, que me dá prazer e me ajuda a refletir. Saber que a mensagem não chega como a idealizo é-me difícil de aceitar. Mas valorizo quem tem a capacidade de analisar o que escrevo e criticar de forma construtiva.

Meu Dono já me tinha dito que escrevo bem mas...sem alma! Que não coloco a minha essência no que escrevo, que escondo parte de mim. Hoje, após publicar o último post chamou-me de incompetente, porque escreve-se agradar ao Dono e não agradar o Dono (corrigido entretanto) e disse ainda que o meu texto era seco, além da ausência da alma não tinha sumo! Não é a primeira vez que mo diz e cada vez fico mais triste por não conseguir demonstrar o que me vai na alma. O maior castigo é a sensação de fracassar perante o meu Dono, desiludi-Lo é o que mais pesa na minha alma.

Mas a verdade é que a minha alma está confusa, muita coisa aconteceu em pouco tempo, e a mudança, embora sentida no meu íntimo, não me é fácil de exprimir por palavras, porque é tudo muito novo para mim, sinto que estou a viver pela primeira vez e não reconheço os sentimentos, a única certeza é que nunca me senti tão bem e tão completa.

Não pretendo justificar-me, nem fugir ao castigo, quis tão somente demonstrar a importância das palavras do meu Dono que enviou-me o texto, que passo a transcrever:

"ACORDA ANA!

Olá putinha submissa à deriva:

A ausência de alma nos teus textos, efetuados como de uma reportagem sublimar se tratasse, leva-me a que publiques no teu blogue este meu texto, ao jeito de comentário. É o meu desejo e espero ser obedecido!

Acorda ana! Faz jus ao título do teu blogue!

Arregaça as mangas e vive, acorda de rompão e vê a luz que brilha lá fora, as pessoas que vivem, lutam e gritam. É a vida em toda a sua plenitude. Não te deixes ficar na penumbra do quarto, levanta-te e caminha. Corre para a tua janela, abre-a e grita. Faz ouvir a tua voz e que toda a gente saiba que queres viver e ser feliz. Agora que já te deste conta que a submissão e a entrega é o caminho para a tua libertação, vem em frente, pega o touro da vida pelos cornos, como o melhor forcado em uma arena.
Alegra-te com a dor, chora com o prazer, sorri ironicamente para os profetas da desgraça, ri com os contrastes da vida.

Não escreves mal, antes pelo contrário, mas falta-te alguma alma no que escreves. Não basta apenas utilizar bem o verbo, reportar sítios, pessoas ou sentimentos, expor a tua vontade publicamente, falares sobre a tua entrega. Escrever bem é seres honesta contigo própria e com os outros. É tua obrigação fazer isso tudo com alma. Com competência! Muita alma... toda a alma, dizes tu num texto publicado algures...

É verdade, reclamo o que é meu porque o tomei! Não peço licença para tomar o que me pertence, o que me entregaste. Mas, nem tudo é ainda meu. Sei disso, aceito isso como um desafio. E eu adoro desafios!

Nunca gostei de coisas fáceis, entregas imediatas, confissões de submissão muitas das vezes sem a submissa saber onde se vai meter, em que mãos e cérebro se vai colocar. Às vezes até é por moda.
Entrega e dominação não são fáceis. Nem para quem se submete, nem para quem domina. A entrega é um processo contínuo, doloroso, muitas das vezes contrário à educação que foi imposta. A dor da mudança dói. A entrega dói. O libertar das amarras baunilha dói.

Dominar também dói. Se for dominação séria, e não apenas umas meras sessões em o que existe é um saber empírico acumulado, dói ao dominador cerebralmente. Dominar muda o dominador. Faz ele se questionar. Pensar no bem-estar físico e intelectual de quem domina, mas também o faz crescer não apenas como dominador mas igualmente como pessoa.
Não existe uma forma de dominar duas submissas diferentes, pelo mesmo dominador, com métodos iguais. São pessoas diferentes e um dominador nunca se pode esquecer que antes de sermos o que formos, somos antes seres humanos.

Agrada-me a tua entrega, as tuas tentativas de fazer o que é correto, a tua ânsia de aprender, o teu desejo de fazer o correto. Gosto das tuas falhas, porque me dão oportunidade de te castigar e corrigir. Orgulho-me do caminho que percorreste neste período curto de tempo – que se conta por dias – porque sei que esse é o caminho que te vai fazer mais feliz.

Como o título do texto estava mal escrito, no post que publicaste anteriormente, obrigando-me a corrigir-te, podes contar com um castigo.
Se não tivesses competência para escrever bem, não te castigava, mas saber escrever e dar calinada, seja de que tipo for chama-se incompetência e, se existem coisas de que eu não gosto, é de incompetência.

Teu Mestre
Z"

Agradar ao Dono

Podia falar sobre a festa, sobre as pessoas que conheci, as conversas que troquei ou sobre os conhecimentos que adquiri mas... o mais importante da festa para mim foi ter agradado ao meu Dono e os momentos vividos a dois.

Gostei do olhar embevecido do meu Dono quando me viu preparada para a festa, o sorriso que esboçou disse com sinceridade o que só mais tarde admitiu por palavras. Ele sabe que foi por ele que me transformei numa verdadeira "fêmea", para lhe agradar e para que pudesse se orgulhar ainda mais de mim.

Durante o jantar esteve sempre preocupado com o meu bem-estar e questionou-o várias vezes. Eu estava ótima... estava com ele e sentia-me orgulhosa. É bom, em todos os sentidos, ser Dele. A minha única preocupação era satisfazer as suas expectativas, tudo o resto era irrelevante.

Na festa esteve sempre presente, mesmo nos momentos em que me permitiu ausentar, sabia-o comigo. Apresentou-me aos amigos e partilhou histórias, fez-me sentir o respeito que tem por mim e a confiança que deposita em mim. Durante todo tempo só me preocupei com Ele e se O estava a servir convenientemente.

Mas o melhor, o momento que ansiei todo o dia e toda a noite, veio depois. Sozinhos, sem barreiras nem obstáculos, permitindo-me servi-Lo livremente, entregando-lhe corpo para que o usasse da forma que bem entendesse. A mente sossegou quando teve a certeza que Ele me desejava tanto como eu a Ele e que continuamos juntos partilhando o mesmo caminho. 

O teste a que me submeteu foi superado e Ele continua a reclamar a sua posse sobre mim e isso deixa-me feliz e em paz. O diálogo mantém-se e cada vez é mais intenso.

Adormecemos os dois e nunca me sentira tão confortável, consolada, satisfeita e realizada.

sábado, 23 de julho de 2011

Teste

Chegou o dia do meu teste, meu Dono vai-me testar e a nossa relação vai depender de mim. Espero superar o teste e que no fim da noite Ele sinta orgulho em mim e que pretenda continuar a caminhar a meu lado. Não tenho qualquer protocolo a seguir, nem tão pouco linhas base de orientação, meu Dono quer que seja eu própria e deu-me liberdade para agir da forma que eu entender.

Eu preferia ter algumas regras, ter combinado alguns sinais, ter forma de saber no momento se Ele está contente comigo ou não. Mas percebo a importância de não as ter. Conhecemo-nos há quinze dias e Ele quer, antes de se impor, conhecer-me. Ao mesmo tempo estará a avaliar a minha entrega através do meu comportamento e atitude. Eu serei "eu", agirei como sempre mas... com Ele no pensamento. Quero muito continuar a Seu lado e que este aniversário do BDSM seja apenas o primeiro entre muitos a celebrar juntos.

Tenho aprendido tanto nestes últimos dias... sinto-me tão bem quando estou com Ele... Nunca me senti tão desejada, tão importante e adoro essa sensação. Adoro quando me toca, quando sinto a Suas mãos na minha pele, quando me olha nos olhos, quando diz que me deseja... Ouço-O sempre com atenção mas há tanto para aprender que às vezes acho que não consigo absorver tanto ao mesmo tempo (porque sinto o que diz!). Sei que cada vez lhe entrego mais, de dia para dia conquista mais um bocadinho de mim e à medida que a confiança aumenta tenho vontade de entregar ainda mais...

Pela primeira vez sinto-me completa, dou mas também recebo. Sinto-me acompanhada mesmo na Sua ausência e isso... é muito bom! É tão bom que quase não tenho tempo para escrever, nem necessidade de o fazer. Tenho-me libertado de outra forma! 

Agora vou tratar de mim, quero estar perfeita para Ele e servi-Lo com toda a devoção. Quero que tenha vontade de me possuir no final da noite!

terça-feira, 19 de julho de 2011

A entrega do corpo

Na noite que me deixei imobilizar na cruz, e entreguei o meu corpo às sensações, foi o Dom que me serviu (não vou mentir, foi assim que o vi), não lhe entreguei verdadeiramente nada (como podia? tinha acabado de o conhecer!) apenas permiti que ele usasse o meu corpo para me fazer sentir o que tanto ansiava. Foi um momento egoísta, enquanto durou só pensei em mim e no que estava a sentir. A descoberta da dor, a reação do meu corpo à mesma e especialmente a reação da minha mente ao sujeitar-me, conscientemente, a ela. Nem sequer pensei se o Dom estaria a ter prazer, o que me importava era o que eu sentia.

Cada vez que sentia um pingo de cera ou o flogger em contacto com a pele o que sentia era dor e não prazer e por isso o meu corpo tentava-se proteger, tentando recuar, afastar-se do objeto que me magoava. Mas a mente, pelo contrário, sentia prazer nessa dor e ansiava por mais, quanto maior a dor mais prazer sentia. Tentar perceber esta relação, dor física e prazer mental, ocupou-me grande parte do tempo e continuo sem a perceber muito bem. A única certeza é que gosto do prazer que sinto depois da dor.

A vontade de conhecer o Dom, que me ajudou a testar quem sou, só surgiu no momento em que ele manifestou vontade de me conhecer também. Após alguma hesitação acabei por aceitar um encontro (não para um café e uma chibata!) para um café e uma conversa. Conhecer alguém que já conhecia o meu corpo, que já me tinha tocado e proporcionado prazer, era algo estranho. Quando me olhava sentia-me despida. E, se por um lado sentia vergonha, por outro sentia-me à vontade para desejar que me voltasse a tocar.

Não fui "eu" quem o escolheu, foi aquela parte de mim que mantinha aprisionada: o corpo. Não sei se foi uma reação química ou física mas desejava ser usada por ele, entregar-lhe o corpo que não entreguei da primeira vez. Já não era só um teste, era desejo de me submeter à sua vontade, de me entregar nas suas mãos e permitir que usasse o meu corpo para despertar novas sensações. Já não pensava só no meu prazer mas no prazer que ambos poderíamos alcançar através do meu corpo.

A entrega acabou por acontecer e ele recebeu o corpo desejoso por receber tudo o resto. Entreguei-o com determinação em servi-lo o melhor possível e, surpreendentemente, o corpo é-lhe obediente mesmo quando a mente ainda duvida da submissão. Estou a aprender a entregar mas também a receber, as marcas simbolizam essa aprendizagem e o prazer. Espero um dia entregar-lhe mais e que ele receba com o mesmo desejo e carinho a minha mente, a minha alma, a minha vida.

Mas o caminho é difícil, toda a vida fui independente, demasiado racional e um pouco rebelde. O conflito interior, entre mente, espírito e alma esteve sempre presente. Pretendo encontrar o equilíbrio e apaziguar o meu ser através da minha submissão, crescendo com ela e acreditando que o meu Dono fará de mim uma pessoa melhor, mais completa, mais serena e preparada para a vida.

Tenho pela frente muitas etapas a percorrer e pretendo passar por todas devagar, saboreando cada uma delas, para que no final sinta o gosto doce da entrega total.

sábado, 16 de julho de 2011

Corpo com alma

Desde que me lembro que procuro alguém que conquiste o meu coração para me entregar de corpo e alma. Até hoje essa entrega não foi possível (faltou sempre algo) mas a vontade esteve sempre presente. Mesmo quando me isolei do mundo, por achar que amar e ser amada não fazia parte do meu destino, mantive sempre uma réstia de esperança.

O meu coração foi conquistado algumas vezes mas raramente o suficiente para entregar o corpo e ainda menos a alma. Porque não escolhemos por quem nos apaixonamos, porque simplesmente acontece, o meu coração enamorou-se, quase sempre, por quem (por uma razão ou várias) eu sabia não ser a pessoa certa. Mesmo nos momentos de maior loucura e de desejo, comuns na paixão, consegui sempre manter alguma lucidez e a racionalidade nunca me abandonou por completo.

Toda a minha racionalidade fez com que experimentasse várias emoções mas poucas sensações. Senti muito com alma e pouco com corpo. Mas a alma está cansada de sentir sempre o mesmo e, a continuar assim, corre o risco de adoecer e não posso deixar isso acontecer.

Decidi então partir à descoberta das sensações, permitindo que o meu corpo se entregasse. Não me entrego de corpo e alma, para já, mas entrego o corpo que está intimamente ligado à minha alma. É através dele, e das sensações por ele sentidas, que espero alimentar a alma e crescer.

Ao entregar o corpo à minha vontade, e à do outro, acabo por entregar muito mais que o corpo. Entrego uma parte de mim, da pessoa que sou e da minha personalidade. O corpo é uma forma de me expressar, dos outros me "lerem" e não posso viver sem ele, por isso é tão importante para mim. Pretendo conhecê-lo melhor e descobrir todas as suas potencialidades mas devagar e sempre com respeito. Respeitando o corpo respeito a pessoa que sou, aumenta a confiança e a entrega é cada vez maior.

Ainda não entrego a alma mas... entrego o corpo com alma e quem o recebe não pode esquecer-se disso. Respeitando o corpo respeita-me a alma, que lhe posso vir a entregar, e permite-me que o sirva com mais devoção.




















quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sensações

Depois da primeira sessão o que resta? A memória prazerosa do primeiro passo, uma vontade ainda maior de começar a caminhar e a certeza que não posso voltar a induzir-me em coma. Restam ainda as marcas visíveis da cera, dos beijos que me queimaram a pele, e as invisíveis que me aproximam do meu destino.

Percebi que não estou preparada para o turbilhão de sensações que se avizinha, que muitas delas serão sentidas pela primeira vez, mas estou cheia de vontade para as sentir. Despertei para o mundo dos sentidos e a procura das  emoções já não impera. Quero aproveitar esse novo mundo e descobrir tudo o que tenha para me dar: do prazer à dor.

As sensações ganharam importância, cresce a vontade de sentir não só com a alma mas também com o corpo. Usar os cinco órgãos sensoriais: olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. Sentir e deixar o cérebro processar as impressões recebidas pelos sentidos sem ter de acrescentar a fantasia para alcançar o prazer. Deixar-me inebriar pelo que é real, verdadeiramente experienciado.

Quero aprender a libertar o corpo, permitir que receba estímulos exteriores e obter prazer com os mesmos (com o frio, o calor, as texturas, a pressão, o doce, o amargo, etc.). Aumentar a sensibilidade, a capacidade de sentir e aprender a reagir aos estímulos conforme a sua intensidade, duração e qualidade.

Vou deixar a alma usar o corpo para crescer. O corpo recebe o estímulo mas é a alma que o compreende e define. O que determinado estímulo provoca em mim depende também do meu estado de alma, a sensação é mutável em consequência dessa interação. Há uma panóplia de sensações por descobrir!

Percebo agora que perdi demasiado tempo ao procurar emoções puras, ao querer sentir só com a alma. A partir de agora procurarei as sensações físicas para despoletar as emoções e dessa forma crescer e evoluir.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Início IV - A primeira sessão

Paramos em frente à Cruz de Santo André e o Dom perguntou: "Estás bem?". Sim, respondi. Indicou-me as suas safewords, uma para interromper e conversar e outra para terminar. Disse-me para tirar o casaco e fi-lo sem hesitar, para tirar a blusa e fi-lo com alguma hesitação, e por fim o soutien e... lamuriei, baixinho, emitindo apenas um som que demonstrava vontade mas alguma vergonha. "Eu tiro-o." Respondeu ele, colocando-se por trás de mim e desapertando os colchetes. Ali estava eu exposta, da cintura para cima, para ele e para todos os outros que me observavam no fundo da sala, confortavelmente sentados em silêncio.

Preocupado comigo, sabendo que era a minha primeira vez, colocou-me uma venda para que pudesse  aproveitar as sensações sem ter de me preocupar com o olhar dos outros. Encostou-me à cruz, senti o corpo dele encostado ao meu, enquanto me perguntava baixinho, ao ouvido, se estava bem. Era a primeira vez, ao fim de muito tempo, que eu permitia que um Homem chegasse tão perto de mim. 

Mandou-me abrir as pernas e prendeu-me pelos tornozelos à cruz. Pegou na minha mão direita, acarinhou-a e de seguida levantou-a para me prender, pelo pulso, à cruz. Senti pela primeira vez a corda a roçar a pele, a sua textura de início macia mas que ao envolver o pulso se tornou mais abrasiva. Ouvi o som que emitia cada vez que dava uma volta para me prender e excitou-me. Depois foi a vez da mão esquerda. Estava imobilizada de livre vontade. Toda eu tremia, parecia que a qualquer momento ia perder a faculdade de me manter de pé!

Segredou-me ao ouvido que a partir daquele momento o nome dele era "Senhor", se o tinha compreendido e mais uma vez questionou o meu bem-estar. Colocou-me uma coleira e perguntou se eu sabia o seu significado: naquele momento era uma cadela.

Acariciou o meu peito e colocou molas nele. Provocou em mim a sensação a que eu tantas vezes me sujeito. Mas, de alguma forma, a mesma sensação era diferente! 
Depois foi a vez da língua sentir a pressão das molas e ser obrigada a manter-se fora do seu abrigo. Sem nada ver, ainda a lidar com a dor das molas, apenas senti a cera a cair no meu peito e gostei do toque quente da mesma. A mão dele ia me acariciando, tocando-me ao de leve o corpo ou apertando-me a carne enquanto a cera continuava a beijar-me.

Quando pensava que estava prestes a terminar, pois já tinha sentido na pele o que anteriormente tinha mencionado como o que mais gostava, senti o flogger, primeiro assinalando a presença e depois atingindo-me com mais força, aquecendo-me a pele. O som quase em simultâneo ao toque não me deixava adivinhar e sentia-o onde não o esperava. A surpresa do contacto rápido deixava-me ansiosa pelo próximo.

Já sem as molas voltei a sentir o calor da cera, pingos que se fundiam em mim, beijos ardentes que me faziam contorcer de prazer, aumentando a minha excitação, estimulando o meu corpo e mente. Não conseguia adivinhar que carícia sentiria a seguir: a da cera ou a da mão do Senhor... Novamente o flogger, agora para retirar a cera que solidificara na minha pele, um afago mais sentido, mais desejado.

Depois soltou-me da cruz, com carinho, e ordenou-me que me colocasse de quatro. Não foi fácil encontrar o equilíbrio necessário mas por fim, lá estava eu, que nem uma cadela a passear pela sala. Agora podia ver e olhava os outros com alguma vergonha, mas ao mesmo tempo orgulhosa por estar a fazer algo que nunca imaginei. O momento apelou ao meu exibicionismo, tantas vezes fantasiado e desejado nos momentos íntimos de maior perversão.

Quando acabou o passeio, retirou-me a coleira, agradeci ao Senhor e vesti-me. Regressei para junto dos que antes me observavam. Ainda tremia, nunca deixara de tremer, e precisava rapidamente de um cigarro para recuperar da excitação do momento. Conversei com o Dom que me considerou bem para a primeira vez e me deu alguns conselhos. Felicitaram-me pelo momento, pelo passo que acabara de dar e quiseram que partilhasse o que sentia.

Gostei! Senti-me bem e tive prazer em ser obediente, em me colocar à disposição do outro e do desconhecido. Adorei as sensações do corpo, o prazer físico e, principalmente, senti-me orgulhosa e submissa.

E se alcancei todo este prazer baseado só na confiança, que poderei atingir quando acrescentar o Amor?

domingo, 10 de julho de 2011

Início III

"Serve livremente e não serás servo." - Menandro

Sábado à noite e mais um convite para me juntar à comunidade BDSM do Porto, na HausofSylvia: um café, boas pessoas para conversar e aprender. Desta vez comprometi-me a aparecer mas, depois de um dia dedicado aos outros, ao início da noite a vontade de sair de casa não era muita. Adiei até ao último momento, até me convencer que estava na hora, e sem criar expectativas conduzi-me, sozinha, até ao meu destino.


Fui das primeiras pessoas a chegar, tomei café, fumei uns quantos cigarros e fui conversando com quem por lá se encontrava: dois Dons, uma Domme e um sub. Conversa agradável, sem grande formalismo (o que me deixa sempre mais à vontade), com alguns momentos divertidos. Dediquei especial atenção a um dos Dons, mais velho, "veterano", mas bastante acessível, que me questionou sobre o meu percurso e expectativas. Respondi sempre com sinceridade e ouvi-o atentamente. Mais pessoas foram chegando, já os conhecia quase todos, e o grupo de "debate" alargou-se. O tema incidiu sobre a dificuldade de um novato, como eu, integrar-se na comunidade e iniciar-se.


Algumas horas depois, já com menos pessoas, a conversa fluía e a atenção recaía me mim. Eu tentava explicar a minha relutância, receio e desconfiança. Não conhecera ainda um Dom em quem confiasse o suficiente para testar a minha submissão. A vontade era muita mas o único a quem a quis entregar não a aceitou. Foi nessa altura que o Dom com quem tinha conversado inicialmente se levantou, pegou na minha mão e perguntou: "Confias em mim?". Olhei em redor e reparei que todos os presentes me observavam aguardando a minha resposta. Era o teste que tanto ansiava e a minha submissão dependia da minha resposta.


Como se precisasse de autorização para entregar o que é meu, o corpo, esperei pela aprovação de uma sub minha amiga que, só com um olhar cúmplice, me disse: "Vai! Aproveita. Estás em segurança e podes confiar". O momento de decisão pareceu-me longo mas na realidade passaram-se apenas uns segundos. Tinha a certeza que nada de mal me iria acontecer, senti-me protegida pelos presentes e sabia que, naquele momento, podia confiar no Dom.

Pousei o cigarro que acabara de enrolar e levantei-me. O Dom ainda segurava na minha mão e levou-me com ele. Enquanto caminhava pensava no passo que estava a dar, no que podia acontecer a seguir e até que ponto a minha vontade me permitiria entregar o corpo a quem não conhecia, a quem não tinha conquistado a minha alma. Receei fugir, não ter coragem, falhar.


Mas a vontade era muita, o desejo ainda maior, e mesmo desconhecendo o que me esperava, terminei o caminho segura e confiante, com a certeza que o meu momento havia chegado.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mensagens

Desde que criei a anag que tenho vindo a trocar mensagens com várias pessoas. Nessas trocas conheci pessoas interessantes que, tal como eu preocupam-se com o conteúdo das mesmas. São pessoas com quem facilmente me identifico, quanto mais não seja, por partilharem o prazer da escrita. Muitas vezes percebo de imediato que não são quem procuro mas dialogo, porque as conversas interessam-me e estimulam-me mentalmente.

No entanto há pessoas que logo na primeira mensagem enviada suscitam o descrédito total. São aquelas que não dizem nada exceto o endereço do MSN. O que as leva a pensar que vou adicionar aos meus contactos alguém que desconheço totalmente? No início ainda fazia um esforço e respondia questionando porque pretendiam falar comigo, o que achavam ter em comum para me quererem adicionar aos seus contactos. A resposta, na maior parte das vezes, era tão vazia de conteúdo como a primeira mensagem.

Outras há que, embora digam pouco, me levam a responder e a tentar descobrir se partilhamos algo. Depois de um breve resumo sobre o que ambos procuramos logo concluímos se nos identificámos. Faço sempre questão de alertar que procuro uma relação e não engate fácil ou sessões, alguém que me estimule mentalmente e que a parte psicológica da D/s é o que mais me fascina. A maior parte das vezes a resposta insiste na parte física como a base destas relações. Discordo, só depois de me conquistarem a alma terão acesso ao meu corpo. Não volto a ler mensagens destas pessoas (deve-se ler "Dons").

Raras vezes o diálogo mantém-se e a resposta do outro parece coincidir com o que procuro, indicam ter sido esse o motivo que levou ao contacto inicial, a procura da pessoa certa, bem como os fetiches mencionados no perfil e o que escrevo no blogue. Agradeço a gentileza de me lerem e de tentarem conhecer-me pelo que escrevo. Depois vem, normalmente, a primeira desilusão, a questão da praxe: como descobri o BDSM? A resposta está no blogue que indicaram ler com atenção! A descoberta da tendência submissa também está lá minimamente descrita. Mas acredito que os meus textos possam parecer longos e que por isso os leiam na "diagonal" e, assim, faço um resumo sobre essas descobertas.

Normalmente o outro passa de imediato para a parte prática, um dissertar sobre os seus fetiches (quase todos indicados no seu perfil!) e terminam questionando o que penso deles (é a segunda questão da praxe). A resposta varia conforme os fetiches mencionados e forma como foram descritos. Por vezes despeço-me educadamente (sempre que deteto brejeirice), outras limito-me a responder que, depois da alma conquistada, sou capaz de experimentar tudo o que possa agradar ao meu Dom, independentemente de achar se vou, ou não, ter prazer com a prática (o meu prazer estará no prazer que proporciono ao outro).

Insatisfeitos com a resposta, insistem para que identifique algumas práticas que me atraem. Elas são muitas mas entendo que não as deva revelar de imediato. Se quisesse que todos e qualquer um as conhecessem colocá-las-ia na lista de fetiches do meu perfil. A insatisfação causada pela minha resposta levanta a questão da minha submissão. A provocação não tarda: se não respondo a algo tão simples se calhar não sou submissa; como quero que me possuam a alma se não sou capaz de mencionar o que o meu corpo deseja?

Se eu não conto a todos os amigos que desejo submeter-me a um Dono porque hei-de confessar os desejos do meu corpo a desconhecidos? Tudo a seu tempo! Conquistem-me a alma (ou pelo menos a mente), ou, no mínimo, saibam esperar pelo momento certo para colocar essa questão, e saberão os segredos que escondo!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Provocação

No processo de descoberta que iniciei, no maravilhoso mundo do BDSM, tive oportunidade de conhecer algumas pessoas tremendamente interessantes e que pretendo integrar no meu círculo de amizade. Uma dessas pessoas é um Dom pelo qual sinto uma ligação que não sei definir mas em quem confio a minha vida e respeito profundamente.

Esse Dom, que não é meu, ajuda-me mais do que imagina e quase tudo o que sei devo a Ele. Tem-me orientado através das reflexões a que me obriga, sem no entanto impor-me as Suas conclusões. Admiro-O por isso, por nunca me ter forçado a nada e pela Sua preocupação por mim ser genuína. Talvez por isso acabe por influenciar o meu comportamento, atitude e escolhas mesmo quando está ausente. Para não errar penso sempre no que Ele faria, no que Ele respeitaria que eu fizesse.

Ele é conhecedor da minha demanda pelo amor e da forma como a encaro. É conhecedor dos meus motivos, desejos, medos, limites, expectativas... Por isso não percebo a Sua última sugestão. Ao perceber que ainda não encontrei com que iniciar uma relação, indicou-me alguém que nada tem a ver comigo, com o que procuro. Estranho essa sugestão porque a mesma não faz qualquer sentido para mim.

Depois de sempre me aconselhar a procurar alguém próximo de mim sugere que meta conversa com alguém que se encontra a 300kms! Para ver se desenvolve algo... e se desenvolver? A probabilidade de a relação evoluir com a distância é mínima!
Sugere-me um Switch e não um Dom! Que faço nos momentos em que ao outro lhe apetecer ser sub? Bem sei que às vezes sou insubmissa mas... a minha rebeldia não é suficiente para submeter ninguém. Permito a introdução de um terceiro elemento? Não frisei vezes suficientes que pretendo uma relação vivida só as dois?
Um inexperiente? Eu que tanto apregoo a necessidade de orientação a "conduzir" uma relação? Os meus conhecimentos são apenas teóricos. Eu que nem como baunilha tive sucesso? Não! Eu sei, Ele sabe, que preciso de ser orientada para chegar onde me proponho.
Ainda por cima, indica-me alguém dez anos mais novo? A mim, que desde sempre tive inclinação para homens mais velhos! Que fantasio com um "dono" trinta anos mais velho...

Não sei em que estava a pensar quando fez a dita sugestão. Talvez tenha-Se enganado e enviado a mensagem certa mas para a pessoa errada. Já toda a gente deve saber que procuro alguém com quem partilhar a vida, que esteja presente e com quem possa dialogar constantemente. A proximidade é de facto importante para mim, só assim posso aprender a confiar, a respeitar, a conhecer o outro e submeter-me. Para ser dominada psicologicamente preciso da presença constante do outro.

Para "dono" ausente tenho o das fantasias. Para obter prazer físico tenho as minhas mãos, uns brinquedinhos e a minha imaginação. Se é suficiente? Não! Da mesma forma que alguém a 300kms nunca será!

A questão que se levanta, e para a qual ainda não obtive resposta é: Os Dons também se enganam ou simplesmente gostam de provocar?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Segundas Oportunidades

Porque dou segundas oportunidades a quem não mereceu a primeira? Esta questão há já alguns dias que me vem a assombrar o pensamento.

Conheço alguém com quem simpatizo inicialmente, conversamos, trocamos ideias, testamos interesses, seduzo-me com as palavras, acredito que partilhamos a mesma teoria de vida e dou-me a conhecer um pouco mais, numa tentativa de evolucionar a relação, esperando que do outro lado aconteça o mesmo.
É assim que as amizades começam, que de desconhecidos passamos a amigos. É o ciclo natural dos relacionamentos. A empatia, a identificação com o outro aumenta a minha segurança, confiança e auto-estima. Sinto-me bem na sua companhia, sinto que me compreende e uma ligação emocional vai-se formando.

O problema começa quando me apercebo que afinal o outro é diferente do que descreveu, as suas atitudes não correspondem à teoria que confessou como sua, nem os interesses mencionados são bem demonstrados. A dúvida instala-se e a confiança regride, fico mais atenta e tento perceber onde é que mentiu e forço-me a descobrir o motivo.

Eu sou sempre verdadeira com as pessoas, posso inicialmente omitir determinadas coisas, que considero pouco relevantes, mas nunca minto e espero do outro a mesma atitude. De que me adianta tentar mostrar algo que não sou se, com o tempo, tudo se revela? Não vou anuir com o outro só porque dá jeito e não quero ser desagradável, nem vou inventar desculpas para justificar o meu comportamento ou personalidade. Não tenho qualquer intenção de manipular a situação/pessoa em meu proveito, para ficar bem na "fotografia".


Mais grave é quando eu, manipulada ou não, começo a sentir que a ligação emocional está a crescer. Depois de perceber que do outro lado quase tudo o que veio foram mentiras ou meias-verdades eu tento encontrar motivo para as mesmas. Talvez o outro estivesse tão interessado em mim que até mentiu para me agradar, para não perder a possibilidade de me conhecer! Ou talvez me tenha usado para passar tempo! O passo seguinte é o confronto e esperar que desta vez o outro seja verdadeiro e que tenha uma justificação válida para o ter mentido.

Um bom manipulador/mentiroso consegue sempre encontrar forma de se justificar: fê-lo a pensar em mim, para não me magoar, porque dessa forma foi possível nos conhecermos e depois... depois já não podia voltar atrás embora o quisesse. Eu tolhida pelo sentimento e pela vontade de amar (e porque coloquei nele o objeto desse amor e dessa esperança) atendo às suas palavras e de coração ferido, mas estupidamente aberto, decido dar mais uma oportunidade: vamos recomeçar mas desta vez sem mentiras.

Tento mesmo dar uma segunda oportunidade e perdoar as mentiras mas... não as posso esquecer. Não consigo deixar de estar mais alerta e de procurar constantemente sinais que possam sugerir mentiras. A constante lembrança de que o outro nem sempre foi verdadeiro faz-me questionar todas as palavras que diz e procuro estar mais atenta às atitudes. Falar é fácil mas agir em conformidade é mais difícil.
Infelizmente ainda não encontrei quem utilizasse sabiamente essa segunda oportunidade! Na maior parte das vezes termina pedindo uma terceira oportunidade! Quando a dou, o que é raro, é apenas para provar ao outro que a segunda não deveria ter existido.

Mesmo assim continuo a dar segundas oportunidades e espero sempre que o outro seja merecedor da mesma. Dou-a porque prefiro sofrer com o desgosto do que com a incerteza. Dou-a porque dessa forma testo a minha capacidade de ajuizar. Dou-a porque sou masoquista!

Ganesha

Ganesha é o deus Destruidor dos Obstáculos materiais e espirituais, é considerado o mestre do intelecto e da sabedoria pelos hindus. É o símbolo das soluções lógicas e daqueles que descobriram a divindade dentro de si, expressa um estado de perfeição assim como os meios para obtê-la.

Quis o destino que em Maio eu conhecesse uma personificação deste deus. O meu semi-deus representa o equilíbrio entre força e bondade, poder e beleza tal como Ganesha. É também dotado de grande capacidade intelectual e conhecimento: é um sábio.

O meu semi-deus não tem corpo de menino nem cabeça de elefante, pelo contrário é um Homem de rosto perfeito mas nem por isso menos inteligente. 
Não tem orelhas enormes mas tem muita habilidade para me escutar quando procuro ajuda e usa-as para alargar o seu conhecimento. Não tem tromba nem presa mas é-lhe também fácil discernir entre o divino e o físico, o real e o irreal, e superar todas as formas de dualismo. Na testa não tem a marca de Tríshula mas é, mesmo assim, superior ao tempo e herdeiro da disciplina e da aniquilação da ignorância. 

Não tem a barriga grande mas habilmente suga os meus sofrimentos e protege-me pois tem a capacidade de engolir, digerir e assimilar todos os obstáculos com benevolência e equanimidade.
Tal como Ganesha tem duas pernas o que lhe permite viver e participar no mundo material assim como no mundo espiritual, dispõe da capacidade de viver no mundo sem ser do mundo! Como um perfeito semi-deus só dispõe de  dois braços mas representam bem a mente, o intelecto, o ego e a consciência condicionada. 

A minha única dúvida recai nos objetos que o deus segura nas mãos... Não imagino o meu semi-deus a segurar uma machadinha que lhe restringisse todos os desejos e lhe decepasse o apego aos objetos embora o saiba como Homem de mente tranquila e que caminha com verdade e retidão. Não me parece que segure uma flor de lótus embora concorde que ele pretenda atingir a realização do seu verdadeiro "eu". Mas consigo imaginá-lo a abençoar-me e proteger-me com uma mão, bem como a demonstrar a satisfação e a plenitude que alcançou com disciplina e auto-conhecimento com a outra.

Mas admiro mais o meu semi-deus que Ganesha. Porque não sendo totalmente divino tem a capacidade de me instruir, de estimular a minha mente, transmitir conceitos como respeito, confiança e tranquilidade mas deixando a minha imaginação livre para desejar o prazer que só no mundo terreno é possível. Ajuda-me a destruir obstáculos, a auto-conhecer-me sem impor verdades absolutas e sem anular a minha identidade. Faz-me evoluir e querer chegar mais longe. Dá-me força e coragem para lutar pelo que quero e instiga-me a procurar o que preciso. Está sempre presente quando preciso e lê-me como mais ninguém...

Com semi-deuses assim quem é que precisa de deuses?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Respeito

"Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento." - Simone de Beauvoir

Sempre tentei respeitar os outros, aceitando as diferenças, não prejudicando e muitas vezes me coloquei no lugar do outro para entender o seu ponto de vista. Nunca tentei impor as minhas ideias, as minhas teorias e nunca dei como unicamente certa a minha forma de ver o mundo. Sempre respeitei a família, os amigos, os superiores hierárquicos, os professores, os vizinhos, os que me servem, etc. Trato sempre os outros como gostaria de ser tratada, com simpatia, educação e amabilidade.

Mas não posso dizer que sempre me tratei com respeito, porque me preocupo mais com os outros do que comigo ou simplesmente porque nem sempre me acho merecedora desse sentimento. Muitas vezes ignorei a minha vontade ou necessidade apenas para respeitar o desejo dos outros. Aprendi a adaptar-me aos outros, tentado corresponder às expectativas e dessa forma reprimi quem sou e limitei os meus desejos. Talvez por isso nunca me tenha sentido verdadeiramente feliz. Tenho momentos felizes mas não passam disso mesmo: breves momentos.

Não posso tolerar quem não me respeita, quem abusa da minha confiança e quem não se preocupa com o meu bem-estar. Quem não aceita as minhas diferenças, não é capaz de se pôr no meu lugar, quem encara que ceder é sinal de fraqueza não me interessa. Quem tenta me impor ideias e comportamentos que não são os meus não é meu amigo. É da minha responsabilidade manter ou afastar pessoas que não me respeitam.

Eu quero percorrer um novo caminho mas preciso de me sentir respeitada para ter a confiança necessária para o fazer. A vontade não é suficiente para dar os passos necessários. Preciso de ser tratada com atenção, consideração e estima. Preciso de sentir reverência para me submeter e obedecer. É-me exigido que abdique dos meus poderes, das minhas vontades e necessidades e só o posso fazer se me sentir segura, confiante e respeitada.

Se o amor incondicional é a finalidade da minha existência, o respeito é um requisito primordial.


sábado, 2 de julho de 2011

Decisões

Os momentos de decisão raramente são fáceis para mim. Sou uma pessoa de hábitos e a mudança às vezes assusta-me. Raramente sigo a intuição, a vontade, o desejo. A maior parte das vezes escolho o mais lógico, o que me parece mais racional. Nem sempre acerto, às vezes arrependo-me mas aceito as decisões que tomo e as suas consequências.

As decisões complicam-se quando tenho de escolher entre o coração e a mente, quando pendem para lados diferentes a confusão instala-se. Mas a mente vence quase sempre. De que me adiantam os sentimentos se a mente não mos deixa saborear? De que adianta ouvir o coração se mente não encontra paz?

Fui "tentada" a avançar no desconhecido, a dar os primeiros passos sem rumo mas... não saber com o que posso contar fez-me recuar. Não estava à espera de saber o que encontrar no final do caminho mas... arriscar sem bússola, sem mapa, sem orientações... impediu-me de avançar. Senti-me prestes a entrar num labirinto e receei não encontrar a saída nem o caminho de regresso.

O meu coração quer acreditar que logo iria encontrar sinais, indicações que me levariam ao sítio certo e que no fim poderia estar a minha felicidade. A minha mente alerta-me para a possibilidade de no fim não existir senão um buraco negro. 

Eu quero descobrir e conquistar o desconhecido mas preciso de me sentir segura e orientada na caminhada, de saber que alguém me protege e que não vai deixar que nada de mal me aconteça. Não preciso que o guia esteja sempre presente basta-me saber que se eu precisar, porque errei ou porque me magoei, irá ao meu encontro para me corrigir ou simplesmente reconfortar.

Tenho de conhecer minimamente o guia para que possa colocar nele a minha confiança, a minha vida. De nada me adianta um guia em quem não sei até onde posso confiar, até onde se preocupa com o meu bem-estar, que tão pouco conhece de mim para identificar as minhas necessidades e dificuldades. De que me adianta um guia com o qual não consigo dialogar ou simplesmente perceber o que pretende/espera de mim?

Mantive-me imóvel, a minha mente está mais calma, mais tranquila mas o meu coração mais fraco, mais triste, mais pequenino!