quarta-feira, 29 de junho de 2011

Silêncio

Silêncio: s.m. Ausência de qualquer som ou ruído; Sossego; Repouso; Mistério, Segredo

Breves silêncios ajudam-me a refletir e a concluir com objetividade, dão-me tempo e espaço necessário para racionalizar as questões e encontrar soluções.

Odeio longos silêncios! Ainda não percebi porque os gregos tiveram de inventar o deus Harpócrates que nos manda calar! Estes momentos são vividos, por mim, com grande ansiedade, despertam muitas dúvidas e as respostas que encontro nunca me são favoráveis. As reflexões que estes momentos obrigam têm sempre um carácter negativo e as conclusões são sempre pejorativas.

O silêncio indica que o outro não quer falar comigo ou não nada tem para partilhar. O silêncio é o oposto do diálogo (que tanto valorizo). O silêncio é sinónimo de afastamento. A ausência de palavras, de comunicação, é-me insuportável, causa-me ansiedade, angústia, perturba a minha forma racional de ser.

Numa altura em que o que mais quero é conhecer o outro, perceber até que ponto estamos em sintonia, que interesses partilhamos, etc, o silêncio é ensurdecedor para a minha alma. Não consigo perceber a que se deve, o que o promove, e qual o seu significado. Por vezes penso que é consequência de algo que fiz ou disse e que, por isso, estou a ser castigada mas... sem saber porquê sinto-me impotente para evitá-lo.

A pausa na comunicação é-me alheia e a retoma da mesma está fora do meu alcance, do meu controlo, da minha vontade. O "silencioso" domina a situação e domina o meu estado de alma! Sinto-me frustrada, desprezada e a irracionalidade aumenta. Imploro por palavras, tento mostrar que sou merecedora, tento provocar reações, pois não consigo lidar com a privação das mesmas.

Se o silêncio se mantém a minha confiança diminui e faz-me questionar as intenções do outro. Alguma vez esteve interessado em mim ou simplesmente dialogou comigo porque não tinha nada melhor para fazer? Terá encontrado outra pessoa com quem tenha mais prazer em dialogar? Andou a brincar com os meus sentimentos? Devo acreditar no que foi partilhado anteriormente? Que esconde de mim?

Quando o silêncio é quebrado... recupero a racionalidade e a estabilidade! Sou novamente seduzida pelas palavras, que alimentam a alma e me acalmam. Volto a confiar no outro e a vontade de estar com ele é maior do que alguma vez foi.

Dialogar, partilhar, é o início da minha felicidade que, infelizmente, a qualquer momento pode ser interrompida por mais um momento de silêncio...

Procuro

Estou sozinha e pelos vistos assim vou continuar por muito tempo! Parece que tenho o dom de assustar os Dons! Quando indico as características que procuro num Dom, ou quando defino o que procuro numa relação D/s a reposta é sempre a mesma: boa sorte! Como se andasse à caça de sonhos...
 
Procuro alguém que mereça o meu respeito, a minha dedicação e devoção. Alguém que aceite os meus limites e me ajude a ultrapassá-los sem me forçar, que dialogue comigo sem precisar de se impor, que saiba demonstrar compaixão quando me pune, educado e cortês mesmo quando ordena. Preciso que seja paciente mas assertivo para que eu possa chegar onde desejo. Responsável para não me deixar correr riscos desnecessários.

Procuro uma relação baseada em respeito, confiança, lealdade e honestidade. Ambos temos um papel importante e não existimos sem o outro, submeto-me e sirvo-o porque me dá prazer e o outro domina-me porque me seduziu, conquistou e porque a minha obediência lhe dá prazer. Procuro partilha, comunhão e companheirismo, uma relação construída pelos dois e para os dois, onde ambos crescemos.

Dizem-me que tenho de aprender a separar a mulher da sub que há em mim, para umas coisas sou a Ana e para outras a anag! Não posso, não consigo, não quero. Eu sou a Ana, a anag é apenas o nick que me dá acesso ao mundo virtual. E nem me parece que esteja a ser demasiado exigente... não procuro um semi-deus! (conheci um mas era demais para mim, não estava ao meu alcance!)

Continuarei sozinha o tempo que for preciso até encontrar o Dom certo, não me vou entregar por desejo, volúpia, necessidade ou simplesmente porque a vontade não me sai do pensamento.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Encontro de S. João

Demorou mais de dois meses para que este encontro acontecesse. Primeiro porque o convite não era feito, depois porque eu não podia aceitar. Por fim resolvi dar uma oportunidade ao Dom em questão e porque me pareceu que se falássemos, em vez de escrever, a conversa podia ser mais esclarecedora.

A verdade é que quando iniciamos a troca de mensagens houve empatia e a vontade de conhecer era muita. O meu desejo sexual despertava finalmente e eu sentia que era capaz de tudo para o satisfazer. Escrevia bem (não suporto que maltratem o Português!), expressava-se com clareza, organizava o discurso e parecia partilhar alguns interesses. Ao fim de alguns dias a trocar mensagens o meu instinto acordou e algo me fez desconfiar das atitudes do Dom em questão. O silêncio e a ausência de respostas, o telemóvel sempre desligado ao fim-de-semana fizeram-me questionar a liberdade do Dom que mais tarde confessou ser ainda casado.

Não suporto mentiras e muito menos traições. Envolver-me com alguém que vive uma relação, seja ela de namoro ou casamento, foge completamente aos meus princípios morais. Restou-me apenas afastar, tentar ignorar o que sentia e combater o desejo. Vivi dias complicados, não consegui esquecê-lo e a vontade de falar com ele era mais que muita, deixando-me num estado de ansiedade permanente. Mas por muito que o casamento dele pudesse estar no fim não me podia intrometer e só podia esperar que me voltasse a contactar quando resolvesse a sua situação.

Depois de um longo silêncio voltou a contactar-me, afirmou que desta vez está mesmo sozinho e completamente livre. Convidou-me a ir a sua casa onde poderia comprovar que de facto vive só. Recusei. Não o conhecia o suficiente para isso, já tinha mentido anteriormente e sentia-me como se estivesse a entrar na toca do lobo... Disponibilizei-me para o conhecer num local público e neutro, trocar ideias e depois... se voltasse a confiar nele então... poderia ir a sua casa e teria todo o gosto em dormir a seus pés.

A minha recusa foi vista como rebeldia, como teimosia e ele... sentiu-se magoado por ter insistido eu recusado sempre! Pedi que entendesse o meu receio e fui obrigada a lembrá-lo que já me havia mentido antes e por isso a minha confiança nele está fragilizada. Mesmo assim acabei por quebrar algumas das minhas regras e acedi em ir ao seu encontro, num local e hora escolhidos por ele, onde a minha vontade e disponibilidade não foram tidas em conta.

O encontro ficou marcado num shopping da sua conveniência, não da minha!, e depois de informado que eu já lá me encontrava, não me perguntou onde mas ordenou-me que o aguardasse junto a uma das entradas. Quando chegou perto de mim não me cumprimentou, nem sorriu! Praticamente ordenou que o seguisse até à praça de restauração pois pretendia comer. Fez o seu pedido no balcão por ele escolhido e nem sequer perguntou se eu pretendia algo. Escolheu a mesa e sentou-se. Eu olhava para ele esperando um qualquer gesto ou sinal de simpatia ou, simplesmente, boa educação. Limitou-se a dizer que não concordava comigo, que eu era demasiado rebelde e que ele não estava habituado a isso. Literalmente disse: eu quero, posso e mando! Não tenho dúvidas que seja dominante e que esteja a habituado a isso pois não me deixou interrompê-lo nem fez pausas no seu discurso para que eu pudesse falar!

Meia hora de monólogo e eu só pensava: quem é este? Não tinha nada a ver com a pessoa com quem troquei mensagens, com quem partilhei ideias, com quem falei sobre D/s... Por fim teve de se ausentar pois tinha de regressar ao trabalho. Fiquei sozinha, estupidamente absorta sem perceber o que tinha acontecido. Pensei que talvez não correspondesse à imagem que ele teria feito de mim e que o discurso utilizado fora uma forma de me afastar...

Vim para casa, pedi para continuar a conversa pois pretendo perceber o momento. Confessou que o único motivo para agir assim foi devido à minha rebeldia... Não acho que fui rebelde, nem lhe devo obediência, não sou sub dele, sou simplesmente uma mulher pensante!
Mesmo assim o meu interesse não desapareceu, e esquecendo toda a racionalidade que me caracteriza, eu continuo com vontade de o conhecer melhor e isso... é o que ainda percebo menos!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ao meu Ignoto Deo

Espero por Ti! É verdade! Estou há muito tempo à Tua espera. Quero-Te já! Agora. Amanhã é tarde. Estou pronta e não consigo esperar mais.

Anseio por Ti! Conquistas-me a rir e dominas-me com o Teu olhar. Seduzes-me com o Teu jeito de ser. Tocas-me na alma sempre que tocas em meu corpo. Não Te vejo mas quase que Te sinto.


Procuro-Te! Preciso de Ti. Liberta-me. Faz-me mulher. Alimenta a fome dentro de mim. Acalma o meu desejo. Ainda não Te encontrei mas quero-Te agora.

Desejo-Te! No refúgio do Inverno, na nudez do Verão. Meu aconchego, meu lar, meu tudo. Não existo sem Ti. Meu corpo quer ser o Teu abrigo, minhas mãos têm sede das Tuas. Estou faminta.

Revela-Te! Deixa-me conhecer-Te. Mostra quem És e entregar-me-ei: corpo e alma. Teus olhos são a minha janela para o mundo. Sem Ti sou cega.
  
Serve-Te! Não tenhas receio. Usa o que é Teu. Abusa se quiseres. A devassidão não desgasta. Satisfaz-me. Queres o que eu quero: ser feliz partilhando. 

Toca-me! Faz-me vibrar. Aquece-me com o Teu amor, Teu calor, Tua respiração que anseio sentir. Um beijo onde quiseres, Teus dedos onde ousares. Sou Tua.

Beija-me! Meus lábios de carmim dilatam de excitação. Estão cheios de vida aguardando-Te. Toca-lhes. Morde-os. São Teus.

Ama-me! Eu hei-de amar-Te. Abraçada em Ti confesso-me baixinho no Teu ouvido. Ensinas-me com prazer. Punes-me com sofrimento. Cada vez Te amo mais. O amor cresce.

Ilumina-me! És a luz da minha noite. Sempre que sorris a lua cresce. Sempre que sorrio nascem estrelas. Energia. Frémito corpo procurando o Teu numa cama vazia.
 
Estou cansada de tanto esperar por Ti... agora é o momento.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dia estival

O Verão começou e isso quer dizer que já passei por duas estações e... continuo no mesmo sítio!

Foi no Inverno que me descobri e decidi aceitar quem sou. Na Primavera pensei estar mais perto do sonho. No Verão descubro que estou mais longe do que alguma vez estive. O sonho é o mesmo mas... cada vez me parece mais impossível de concretizar.

O calor tolhe-me o raciocínio, a claridade cega-me a lucidez e alvura embarga-me a sanidade.

Que fazer naqueles dias em que a carência exalta, a necessidade do toque impera e o desejo domina? Odeio quando me sinto assim: o corpo comanda a mente, o prazer não sai do pensamento, a entrega sem amor faz sentido. A vastidão do mar não me acalmou, o sol não queimou o suficiente e o vento demasiado fraco para me gelar. Quero sentir, preciso de sentir!

Que fazer naqueles dias em que sou tanto sádica como masoquista? Sou sádica porque não me permito tocar, sou masoquista porque não me quero tocar. Quero que me toquem, que me violentem e depois... que me acarinhem...

Que fazer naqueles dias em que quero sentir o chicote a rasgar-me a pele? Preciso da dor acutilante que aparece sem aviso, que convido para atormentar o meu corpo sem vida, e que me lembra que existo e por isso sinto.

Tantos dias assim... hoje é um dia assim! Um dia em que o vazio da alma me consome, em que a angústia arde demasiado lentamente para ser sentida. Procuro o que nunca tive e não entendo a sensação de perda.
Como dizia o poeta (Álvaro de Campos):
"Não sou nada.
 Nunca serei nada.
 Não posso querer ser nada.
 À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Mas até para sonhar é preciso acreditar que um dia os sonhos se tornarão realidade e hoje não consigo.

Estou cansada, mas não fatigada o suficiente para dormir, e acordada só consigo acreditar na solidão do momento e isso... é o que quero esquecer e que teimo em lembrar.

Momento de antecipação

Infelizmente sou uma pessoa que vive muito por antecipação, quer positiva ou negativamente. Quando algo desconhecido se avizinha não consigo resistir a tentar antecipar o que pode acontecer. Se o que está previsto pode ter repercussões negativas imagino sempre o pior; se o que está previsto é algo prazeroso imagino sempre o melhor.

Eu sei que não é a melhor forma de encarar as situações até porque acabo por sofrer devido a essa antecipação. Por vezes ando dias a imaginar o pior como se ele já tivesse acontecido e não houvesse nada a fazer. Outras espero tanto do momento que depois, quando ele acontece, sofro porque não corresponde ao imaginado.

Bem tento mudar, aprender a viver um dia de cada vez mas... é-me difícil! 
Quantas vezes sofri por achar que o mundo, o meu mundo, ia acabar para depois perceber que, afinal, só a morte não tem solução? Sou ótima neste aspeto! Mas o alívio que vem depois compensa a dor sentida antes e faz-me esquecê-la quase de imediato. Afinal o mundo não acabou e eu volto a erguer-me a seguir o meu caminho.
Quantas vezes me deleitei com as possíveis hipóteses, cada uma melhor que a outra, para depois perceber que não chega eu desejar, é preciso que as circunstâncias que me rodeiam o permitem. Desanimo, deprimo, e percebo que a imaginação foi longe demais. Recolho-me, escondo no silêncio a deceção e sigo o meu caminho.

No entanto, gosto do momento em que vivo antecipadamente o prazer que julgo estar prestes a acontecer. É nele que está a minha verdadeira satisfação: na preparação do momento futuro. Como ainda não sei até onde me vai levar a realidade todas as teorias hedonistas são possíveis e preparo-me para elas.

Um exemplo prático é quando vou uma festa/convívio que há muito desejo ir. Dispenso tempo para me preparar porque quero estar no meu melhor, aproveitar sem receios e porque, quem sabe?, posso encontrar o meu príncipe encantado. Não quero ter preocupações secundárias a ocupar-me a mente (chegam as primárias em que terei de perceber se a pessoa é sincera, de confiança, e respeitadora). Não vou à procura de sexo mas se a situação levar a ele quero ter as condições necessárias para que possa deixar acontecer: a depilação feita, o corpo hidratado, a lingerie certa, o perfume inebriante...

Esse momento de antecipação/preparação é especial e vivido interiormente com muita emoção (primeiro porque o "grande momento" ainda vai acontecer; segundo porque posso sempre desistir caso decida que não estou preparada para ele). Faz-me acreditar que estou a controlar o futuro, a minimizar os riscos e aumentar a probabilidade de sucesso mas... no fim do "grande momento", quando a festa/convívio acaba a velha questão volta sempre: Para quê tanta dedicação ao momento? 

O futuro já aconteceu, é passado, e não foi por antecipá-lo que me satisfez! Mas venha o próximo que... enquanto dura acredito que posso ser feliz!

sábado, 18 de junho de 2011

Dono imaginário

A angústia e a solidão levaram-me a criar um Dono, uma personagem a quem me entrego sempre que necessito de sentir prazer. Para alcançar o orgasmo preciso de estimular o corpo mas também a mente e por isso a minha fantasia de Dono precisava de uma história, de personalidade e, obviamente, um início.

A fantasia foi baseada na imagem de um homem real (só conhecida através da TV e de quem só sei ser cerca de 30 anos mais velho, sportinguista, monárquico e engenheiro) que me fascinou com a sua postura, educação e habilidade em expressar e argumentar as suas teorias. A essa imagem fui atribuindo as características, moldando a personalidade de forma a corresponder aos meus ideais.

Tive necessidade de imaginar um primeiro encontro (porque as pessoas não aparecem do nada!) e o "nosso" foi num convívio festivo onde trocamos apenas um cumprimento formal. No momento em que o vi soube que era dele. Tentei por diversas vezes e em ocasiões diferentes aproximar-me mas, devido à diferença de idades e tudo o que ela representa, ele recusou essa aproximação. A minha vontade de o servir e de me entregar a ele fez com que me deslocasse posteriormente ao seu encontro, numa tentativa de o colocar numa situação em que não me pudesse recusar.

Esse encontro clandestino aconteceu numa estação de comboios onde fui repreendida pela minha decisão e vontade. Avisou-me para não voltar a ligar para o seu local de trabalho pois da próxima vez teria de reportar a situação abusiva aos meus pais. Comprou-me o bilhete de regresso e abandonou-me na estação onde, desesperada e humilhada, chorei durante uma hora até...ele reaparecer.

Estava mais calmo e, pela primeira vez, senti desejo no seu olhar. Abraçou-me e questionou se estava certa do que queria pois eu tinha apenas 18 anos e podia não ter consciência das consequências de amar um homem mais velho que, para piorar a situação, se encontrava a 3 horas de distância. Respondi que a minha vida não fazia sentido sem ele, que estava certa do que queria e que a minha castidade era dele e só dele. Secou-me as lágrimas que ainda teimavam em cair e pela mão levou-me com ele.

Conduziu-me em silêncio até sua casa onde voltou a questionar a minha vontade e de seguida mandou-me despir. Tive vergonha pois era a primeira vez que o fazia para um homem, ainda por cima o homem que eu desejava e que por isso tinha receio de não agradar. Repetiu a ordem e questionou-me se era dele ou não, se fosse deveria obedecer sem questionar. Despi-me em silêncio e fiquei a olhar para ele, sentado numa poltrona analisando-me em silêncio, e esperei em pé por um comentário, ou nova ordem, cheia de vergonha, receando que me recusasse novamente.

Fumou um cigarro, ainda em silêncio, enquanto continuava a observar-me. A situação incomodava-me, o silêncio era insuportável e por isso tentei falar mas...de imediato me dirigiu um "Shiu! Não te disse para falares". Mantive-me de pé, expondo-me para ele e aguardei. Demorou até falar novamente e foi para me ordenar que me sentasse no sofá atrás de mim. Sentei-me e aguardei até que me ordenou para abrir as pernas e lhe mostrar o que tinha tanta vontade de entregar pela primeira vez.

Continuou em silêncio, sem qualquer expressão, limitando-se a observar. Não consegui perceber o que pensava e porque se comportava daquela forma. Não era assim que tinha imaginado o nosso encontro, faltava o carinho, o afeto e as palavras de amor tantas vezes imaginadas. 
Levantou-se e informou que teria de se ausentar e que esperava que quando regressasse a casa eu ainda lá estivesse, na mesma posição esperando-o, ou que tendo dúvidas deveria regressar a casa esquecendo este encontro.

Eu não duvidava que era dele, eu queria servi-lo e mesmo não me sentido confortável com a situação esperei, na mesma posição e cada vez mais excitada, pelo seu regresso. A partir daqui tudo podia acontecer e eu sabia que a minha vontade era suficiente para ultrapassar qualquer teste que ele me colocasse.

A minha imaginação não tem limites, pudores ou moral. A minha imaginação tem desejo, vontade e ânsia por prazer.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Primeiras impressões

Embora não me sentisse preparada para assumir uma relação, fosse D/s ou baunilha, a minha curiosidade não diminuiu, pelo contrário, cada vez ficava mais ávida e por isso continuei com as pesquisas.

Comecei a reparar na grafia utilizada: Dominação sempre com "D" e submissão sempre com "s". Percebi que facilmente, desta forma, se distinguia a posição de cada elemento da relação. Concluí que tinha escrito bem o meu nick: anag (foi apenas coincidência mas dessa forma todos saberiam que me identificava como submissa). Inicialmente pareceu-me impor superioridade ao Dom e inferioridade à sub e... não gostei. Só quando percebi que esta distinção gráfica funciona como uma forma de mostrar respeito pelo Dominador é que a aceitei e passei a usá-la sem qualquer preconceito.

Depois percebi a importância do "SSC" - São, Seguro e Consensual - e que tudo gira à volta destas três palavras, se alguma não estiver incluída deixa de ser uma prática de BDSM e passa a ser uma perversão. O conceito de D/s, para mim, é uma relação construída a dois, pelos dois e para que ambos possam crescer juntos de forma saudável e segura.

Mas o que mais me impressionou foram algumas formas de controlo mencionadas nos textos que lia e que podiam estar implícitas numa relação D/s, como o Dom controlar a sub desde a forma como vestir, fumar, falar, masturbar até às necessidades mais básicas como comer ou dormir. Delegar estes direitos pareceu-me excitante mas... desde que não fosse permanentemente. Perder a minha liberdade, a minha identidade não era o que pretendia. Eu queria melhorar, evoluir e não anular-me.

À medida que ia pesquisando a minha opinião ia alterando. Às vezes tinha a certeza que D/s era o que desejava, outras não me conseguia imaginar como sub, 24/7 tanto fazia sentido como não... Eu desejava entregar-me e servir mas não me sentia preparada para o que era exigido de mim enquanto submissa. Parecia que eu só teria deveres e o Dom só direitos. Questionava-me se isso me poderia agradar, o que tinha a ganhar com este tipo de relação e como podia crescer e evoluir... Mas, teimosa como sou, continuei a pesquisar e algum tempo depois encontrei as respostas para que hoje tenha a certeza que é o que quero e preciso.


terça-feira, 14 de junho de 2011

Início II

O início do ano é sempre uma boa altura para reflexões e resoluções e foi assim que percebi que nunca seria feliz se continuasse a esconder quem sou e a refugiar-me na solidão. Algo tinha de mudar, eu tinha de mudar!

A primeira resolução foi conhecer pessoas novas com quem partilhasse interesses. Talvez por estar impedida de me masturbar há quase um mês, por razões alheias à minha vontade, a sexualidade, mais concretamente a minha forma de a sentir, pareceu-me um bom tema a descobrir, aprofundar e discutir.
Pela primeira vez pesquisei sobre BDSM e percebi que não era bem o que achava ser, afinal não era só sexo... era ser muito mais!

Aderi a um fórum português e a curiosidade tomou posse de mim, aos poucos tornou-se um vício ler os textos de outras pessoas que sentiam a sexualidade como eu. Gostei de ler alguns contos e adorei ler relatos, contados na primeira pessoa, com os quais me identifiquei. Foi nesse momento que percebi o papel que desempenhava nas minhas fantasias: submissa.

Ler sobre a entrega e sobre o que ela exige (respeito, confiança, Amor) fez-me perceber que era precisamente o que fantasiava há muito tempo. A ideia de uma relação D/s fascinou-me de imediato e vivê-la a tempo inteiro, 24/7, fazia tanto sentido como o rio correr para o mar. A intimidade associada à D/s atraía-me. Almejava ser capaz de me libertar dos preconceitos, perder a vergonha, os medos, e deixar-me guiar por uma voz sábia e experiente que me conduziria, em segurança, ao prazer da entrega real, a mais bela forma de amar e demonstrar amor.

Mas como podia querer iniciar uma relação para a qual não estava preparada? Sentia-me vazia emocionalmente, adormecida intelectualmente, envergonhada fisicamente e monástica socialmente. Não tinha nada para oferecer ao outro. Tinha de mudar, crescer sozinha para ter algo a entregar e depois evoluir na companhia do outro. A partilha é essencial e é preciso dar para receber e hoje, por causa das minhas fantasias, tenho mais do que tinha há seis meses, sou mais do que alguma vez fui!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Início I

Desde que me lembro que as minhas fantasias são vividas num contexto de BDSM (muito antes de sequer ouvir este acrónimo pela primeira vez) e sempre o achei estranho. O que fantasiava/desejava parecia-me imoral, pouco ético e pecaminoso. Eu não era normal pois desejava algo diferente, tão diferente que durante anos nunca o confessei.

A associação da dor no prazer e o prazer na dor era algo que me deixava desconfortável racionalmente. Seria masoquista? (esta palavra já conhecia!) Não, eu não era bem isso. No mundo real nunca gostei de sofrer nem de sentir dor e, no entanto, excitava-me com ideias dolorosas, quer física quer psicologicamente. Mas nas fantasias a dor era mais do que simples dor, no início era sinal de pertença forçada e era a minha forma de servir o outro conforme esperado de mim. Durante muito tempo a dor foi acompanhada por humilhação e era assim que me excitava.

Aos 17 anos vivi uma paixão angustiante, por não ser correspondida, e senti, pela primeira vez, vontade  em servir alguém real. A recusa dessa servidão levou-me a criar a personagem do "Dono". A personagem foi tomando contornos e a pertença forçada  transformou-se em entrega desejada. Fazia mais sentido eu entregar-me ao outro que me amava e que, por isso, podia dispor de mim conforme pretendesse pois eu existia para o agradar/satisfazer.
Ainda não compreendia porque me excitava dessa forma mas associar-lhe um aspeto romântico facilitava a aceitação interior. A ideia já não era tão imoral!

Aos vinte e poucos anos conheci o acrónimo BDSM através dos filmes pornográficos e, na altura, associei a apenas a uma forma de sexo onde o afeto não existia e por isso não me convenceu. Eu queria experimentar o que via mas não como via. Desejava algo parecido mas feito por amor, eu queria entregar o corpo a quem já pertencia a minha alma. O que via era demasiado rude, impessoal e carnal mas, mesmo assim, excitava-me. Pensei que nunca poderia concretizar as minhas fantasias porque achava ser a única pessoa que as tinha, só eu associava o BDSM ao amor e que essa ligação era impraticável.

Tentei manter os meus desejos escondidos mas, inconscientemente, sempre procurei quem me dominasse. Quando percebia que o outro não tinha essa capacidade o encantamento desaparecia e a paixão morria. A ligação emocional não era suficiente para manter a relação. A impossibilidade de sentir afeto e desejo sexual pela mesma pessoa levou-me a uma vida celibatária onde o prazer só é alcançado através do ato solitário da masturbação.

Só há seis meses, com quase 36 anos, é que descobri o verdadeiro significado do BDSM e que, afinal, não estou sozinha! Há mais, muitas mais, pessoas como eu e sabê-lo tranquilizou-me: afinal não sou anormal!

domingo, 12 de junho de 2011

Namaste

Namaste é usado no Sul da Ásia como forma de cumprimento, saudação e despedida. Significa, literalmente, "curvo-me perante ti" e, quando é dito a outra pessoa, é normalmente acompanhado de uma ligeira vénia e feita com as palmas das mãos tocando-se e os dedos apontados para cima junto ao peito. Quando se pretende demonstrar profundo respeito pode-se colocar as mãos em frente à testa. Namaste é utilizado no Ioga como forma do aluno saudar o instrutor mas também significa "sou o seu humilde criado".

Aprendi muito recentemente esta palavra/gesto mas, pelo seu significado, logo a associei a uma relação de Dominação/submissão. Não só por permitir que eu, através de uma só palavra ou gesto, possa demonstrar a minha submissão mas também porque a resposta é dada da mesma forma. Eu saúdo o outro com o mesmo respeito que o outro me saudará. 

O respeito é um sentimento que me faz tratar alguém com especial atenção, consideração e por vezes reverência. Senti-lo permite-me obedecer e submeter mais facilmente porque aumenta a minha confiança no outro. 
Respeitar é aceitar as diferenças e assumir as semelhanças que me unem ao outro. Como sentimento que é não pode ser exigido mas sim conquistado através de ações, atitudes ou simples gestos. É reconhecer o valor do outro, a sua importância no meu crescimento e o contributo para a minha própria valorização.

Numa relação D/s os intervenientes agem de forma diferente, um domina e outro submete-se, mas são igualmente fundamentais para a mesma. Um não existe sem o outro, complementam-se.

Se ao respeito mútuo e à confiança juntar Amor tenho todas as condições necessárias para uma entrega "total", corpo e mente, pois a minha segurança está garantida.

Espero ter a possibilidade de, em breve, saudar desta forma aquele a quem eu me decida entregar com todo o respeito: Namaste.

sábado, 11 de junho de 2011

Quem sou

"Aquele que sabe mandar encontra sempre quem deva obedecer" - Nietzsche 


Quem eu sou ainda não sei e é, precisamente, isso que pretendo descobrir. Trinta e seis anos de indefinição, dormência, conflitos interiores e muitas crises existenciais ainda não me deixam assumir o que sempre senti ser: submissa.

Toda a vida lutei contra o que a minha alma precisa e excita o meu corpo. Submeter-me a alguém vai contra o meu feitio, pensamento racional e espírito rebelde.
Adoro sentir-me livre, não ter de explicar decisões e usufruir do direito à escolha. No entanto, sonho com a entrega da minha liberdade, confiança cega na sentença e abdicação do livre-arbítrio.

Procuro o equilíbrio, a tranquilidade e o crescimento que só o outro me pode ajudar a alcançar. Quero aprender a amar incondicionalmente, delegar o meu bem-estar, experienciar com todos os sentidos e servir com devoção.

Mas primeiro preciso de me libertar das cordas invisíveis, que me aprisionam num mundo sem sentido, para me deixar amarrar com cordas reais e, assim, sentir-me verdadeiramente livre pela primeira vez.
Acordar do coma a que me induzi, durante anos, foi o primeiro passo. Agora que despertei só a mudança faz sentido e iniciar um novo caminho é a causa e, simultaneamente, o efeito da minha felicidade.

Depois de seis meses de pesquisa, análise e reflexão começo a aprender a definir o que quero e a descobrir o que não quero. Aceitar a minha vontade, os meus desejos e fantasias é essencial para a minha sanidade mental. Andei demasiado tempo perdida e agora que me encontrei não posso recuar para aquela que já fui... tenho de avançar!

É sobre esse caminho, que vai ainda no início, que quero escrever, partilhando as etapas que me levarão à minha meta: encontrar quem me conquiste, domine e aceite a minha submissão.