segunda-feira, 13 de junho de 2011

Início I

Desde que me lembro que as minhas fantasias são vividas num contexto de BDSM (muito antes de sequer ouvir este acrónimo pela primeira vez) e sempre o achei estranho. O que fantasiava/desejava parecia-me imoral, pouco ético e pecaminoso. Eu não era normal pois desejava algo diferente, tão diferente que durante anos nunca o confessei.

A associação da dor no prazer e o prazer na dor era algo que me deixava desconfortável racionalmente. Seria masoquista? (esta palavra já conhecia!) Não, eu não era bem isso. No mundo real nunca gostei de sofrer nem de sentir dor e, no entanto, excitava-me com ideias dolorosas, quer física quer psicologicamente. Mas nas fantasias a dor era mais do que simples dor, no início era sinal de pertença forçada e era a minha forma de servir o outro conforme esperado de mim. Durante muito tempo a dor foi acompanhada por humilhação e era assim que me excitava.

Aos 17 anos vivi uma paixão angustiante, por não ser correspondida, e senti, pela primeira vez, vontade  em servir alguém real. A recusa dessa servidão levou-me a criar a personagem do "Dono". A personagem foi tomando contornos e a pertença forçada  transformou-se em entrega desejada. Fazia mais sentido eu entregar-me ao outro que me amava e que, por isso, podia dispor de mim conforme pretendesse pois eu existia para o agradar/satisfazer.
Ainda não compreendia porque me excitava dessa forma mas associar-lhe um aspeto romântico facilitava a aceitação interior. A ideia já não era tão imoral!

Aos vinte e poucos anos conheci o acrónimo BDSM através dos filmes pornográficos e, na altura, associei a apenas a uma forma de sexo onde o afeto não existia e por isso não me convenceu. Eu queria experimentar o que via mas não como via. Desejava algo parecido mas feito por amor, eu queria entregar o corpo a quem já pertencia a minha alma. O que via era demasiado rude, impessoal e carnal mas, mesmo assim, excitava-me. Pensei que nunca poderia concretizar as minhas fantasias porque achava ser a única pessoa que as tinha, só eu associava o BDSM ao amor e que essa ligação era impraticável.

Tentei manter os meus desejos escondidos mas, inconscientemente, sempre procurei quem me dominasse. Quando percebia que o outro não tinha essa capacidade o encantamento desaparecia e a paixão morria. A ligação emocional não era suficiente para manter a relação. A impossibilidade de sentir afeto e desejo sexual pela mesma pessoa levou-me a uma vida celibatária onde o prazer só é alcançado através do ato solitário da masturbação.

Só há seis meses, com quase 36 anos, é que descobri o verdadeiro significado do BDSM e que, afinal, não estou sozinha! Há mais, muitas mais, pessoas como eu e sabê-lo tranquilizou-me: afinal não sou anormal!

1 comentário:

  1. Olá... No percurso recente da minha vida cruzei caminho com uma mulher. despertou-me interesse era culta, levava uma vida independente e acima de tudo responsável e organizada.
    Conhecendo mais da pessoa surge este "acrónimo" BDSM... Sensações de insegurança, ciúmes, confusão...foi todo um manifesto de sentimentos que no preciso momento em que da boca dela foram saindo palavras, se manifestaram no meu interior. Estava desapontado, desiludido, ou sei lá... Não sabia nada de nada e muito menos estava preparado para perceber o que estava a aparecer na ligação que estávamos a criar. A conversa desenrolou-se diz ela então, que na vida pessoal/íntima se sente mais confortável a delegar decisões e que pronto era uma sub. A minha cabeça estava a mil (etc).
    Posto isto, sinto dificuldade em entrar no tema em saber como agir para com ela enquanto Dom e não sei em que textos confiar para iniciar todo um caminho que vai de encontro às expectativas que quero superar nela.
    Sinto-me perdido, sei que esta forma de vida lhe vai fazendo falta, além do mais andamos com uma relação de fins-de semana pois há alguma distância e profissionalmente ambos temos de permanecer no futuro próximo, onde nos situamos.
    Gostei das partilhas que fez, os textos estão bem escritos, manifesta também o pós-BDSM (se é que me é permitido escrever assim), que acho curiosíssimo e nada do género havia visto até ao momento. Eu antes de tudo isto também tinha as minhas aventuras, gostava de levar alguém comigo para proporcionar agradáveis momentos e tudo à margem dum mundo BDSM.
    Agora simplesmente não me sei conduzir e vou tentando "aqui e ali" buscar peças para todo um puzzle que me cria mil bichinhos a esmiuçar cada neurónio que funciona em mim.
    Quero ser tudo para esta pessoa...
    Deixo e-mail para o caso de haver uma respota - jocarpifer@gmail.com

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