quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dia estival

O Verão começou e isso quer dizer que já passei por duas estações e... continuo no mesmo sítio!

Foi no Inverno que me descobri e decidi aceitar quem sou. Na Primavera pensei estar mais perto do sonho. No Verão descubro que estou mais longe do que alguma vez estive. O sonho é o mesmo mas... cada vez me parece mais impossível de concretizar.

O calor tolhe-me o raciocínio, a claridade cega-me a lucidez e alvura embarga-me a sanidade.

Que fazer naqueles dias em que a carência exalta, a necessidade do toque impera e o desejo domina? Odeio quando me sinto assim: o corpo comanda a mente, o prazer não sai do pensamento, a entrega sem amor faz sentido. A vastidão do mar não me acalmou, o sol não queimou o suficiente e o vento demasiado fraco para me gelar. Quero sentir, preciso de sentir!

Que fazer naqueles dias em que sou tanto sádica como masoquista? Sou sádica porque não me permito tocar, sou masoquista porque não me quero tocar. Quero que me toquem, que me violentem e depois... que me acarinhem...

Que fazer naqueles dias em que quero sentir o chicote a rasgar-me a pele? Preciso da dor acutilante que aparece sem aviso, que convido para atormentar o meu corpo sem vida, e que me lembra que existo e por isso sinto.

Tantos dias assim... hoje é um dia assim! Um dia em que o vazio da alma me consome, em que a angústia arde demasiado lentamente para ser sentida. Procuro o que nunca tive e não entendo a sensação de perda.
Como dizia o poeta (Álvaro de Campos):
"Não sou nada.
 Nunca serei nada.
 Não posso querer ser nada.
 À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Mas até para sonhar é preciso acreditar que um dia os sonhos se tornarão realidade e hoje não consigo.

Estou cansada, mas não fatigada o suficiente para dormir, e acordada só consigo acreditar na solidão do momento e isso... é o que quero esquecer e que teimo em lembrar.

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