domingo, 10 de julho de 2011

Início III

"Serve livremente e não serás servo." - Menandro

Sábado à noite e mais um convite para me juntar à comunidade BDSM do Porto, na HausofSylvia: um café, boas pessoas para conversar e aprender. Desta vez comprometi-me a aparecer mas, depois de um dia dedicado aos outros, ao início da noite a vontade de sair de casa não era muita. Adiei até ao último momento, até me convencer que estava na hora, e sem criar expectativas conduzi-me, sozinha, até ao meu destino.


Fui das primeiras pessoas a chegar, tomei café, fumei uns quantos cigarros e fui conversando com quem por lá se encontrava: dois Dons, uma Domme e um sub. Conversa agradável, sem grande formalismo (o que me deixa sempre mais à vontade), com alguns momentos divertidos. Dediquei especial atenção a um dos Dons, mais velho, "veterano", mas bastante acessível, que me questionou sobre o meu percurso e expectativas. Respondi sempre com sinceridade e ouvi-o atentamente. Mais pessoas foram chegando, já os conhecia quase todos, e o grupo de "debate" alargou-se. O tema incidiu sobre a dificuldade de um novato, como eu, integrar-se na comunidade e iniciar-se.


Algumas horas depois, já com menos pessoas, a conversa fluía e a atenção recaía me mim. Eu tentava explicar a minha relutância, receio e desconfiança. Não conhecera ainda um Dom em quem confiasse o suficiente para testar a minha submissão. A vontade era muita mas o único a quem a quis entregar não a aceitou. Foi nessa altura que o Dom com quem tinha conversado inicialmente se levantou, pegou na minha mão e perguntou: "Confias em mim?". Olhei em redor e reparei que todos os presentes me observavam aguardando a minha resposta. Era o teste que tanto ansiava e a minha submissão dependia da minha resposta.


Como se precisasse de autorização para entregar o que é meu, o corpo, esperei pela aprovação de uma sub minha amiga que, só com um olhar cúmplice, me disse: "Vai! Aproveita. Estás em segurança e podes confiar". O momento de decisão pareceu-me longo mas na realidade passaram-se apenas uns segundos. Tinha a certeza que nada de mal me iria acontecer, senti-me protegida pelos presentes e sabia que, naquele momento, podia confiar no Dom.

Pousei o cigarro que acabara de enrolar e levantei-me. O Dom ainda segurava na minha mão e levou-me com ele. Enquanto caminhava pensava no passo que estava a dar, no que podia acontecer a seguir e até que ponto a minha vontade me permitiria entregar o corpo a quem não conhecia, a quem não tinha conquistado a minha alma. Receei fugir, não ter coragem, falhar.


Mas a vontade era muita, o desejo ainda maior, e mesmo desconhecendo o que me esperava, terminei o caminho segura e confiante, com a certeza que o meu momento havia chegado.

Sem comentários:

Enviar um comentário