terça-feira, 27 de setembro de 2011

Deliberar

Estou num momento de reflexão, resolvi interromper a minha busca por um Dom mas não terminá-la. Uma relação D/s continua a ser o que desejo (nada me dá mais prazer que servir e ver reconhecido o valor da minha servidão), simplesmente não me sinto preparada para tudo o que ela exige. Daí achar que primeiro tenho de caminhar sozinha, crescer e fortalecer.

Uma das coisas que mais me baralha é o conceito de "consensual". Na breve experiência que tive, todas as práticas a que fui sujeita foram consentidas mas nem sempre concordei com as mesmas. Consentia porque agradar ao Dom era o meu objetivo e não punham em risco a minha vida. Não concordava porque era algo que mexia com a minha integridade. Por exemplo, posso consentir um castigo, porque o Dom entende que eu errei, mas não concordar com ele porque, no meu ponto de vista, não errei. Aceitar o castigo obriga-me a aceitar o erro, que não cometi, e isso mexe com a minha integridade moral.

Um dos objetivos de uma relação D/s é também superar limites, tanto da sub como do Dom. Mas, no meu ponto de vista, há limites que podem e devem ser superados e outros que se ultrapassados podem, mais uma vez, mexer com a minha integridade e ter efeitos nocivos. Por exemplo, não conseguia comer manga porque o cheiro dessa fruta incomoda-me, no entanto, depois de provar percebi que até gosto do sabor, não é a minha fruta preferida mas agora como-a sem qualquer problema, foi um limite superado; Eu gosto muito de morangos mas evito-os, comê-los sem serem devidamente preparados provoca-me uma reação alérgica, logo é um limite que não pode ser ultrapassado (pelo menos sem  presença de um anti-histamínico!). Entender a natureza dos limites é algo que exige muito conhecimento do outro e esse só acontece com o tempo.

O diálogo e o respeito são essenciais para que a confiança cresça e a entrega possa ocorrer sem reservas. Se eu disser que sou alérgica a morangos tenho de ter a certeza que o Dom nunca me vai obrigá-los a comer, por muito sádico que seja tem de respeitar esse limite ou então...não é o dom certo para mim.

No BDSM não há lugar para a violência, daí a importância do SSC ou do RACK. A entrega só faz sentido se for livre, não pode ser exigida mas conquistada. Não tenho qualquer problema em satisfazer as "taras" do outro desde que eu tenha, também, prazer com elas. Infelizmente pelo que tenho ouvido e lido nem sempre é assim, muitos Dons, por serem quem conduz a relação, julgam-se com o poder total de decisão e à sub resta apenas servir e obedecer.

A minha integridade como pessoa e mulher continua a ser superior ao prazer que obtenho na submissão e é isso, que neste momento, me obriga a refletir e a ponderar muito bem o que quero e posso aceitar.


8 comentários:

  1. Para se ser submisso/Dominador não basta desejar servir (agradar) ou desejar guiar (controlar), tal como desejar o ar fresco dos cumes não é suficiente para ser alpinista.
    Dominadores devem ser pessoas seguras e submissos ainda mais; a D/s devia ser desaconselhada a pessoas em qualquer tipo de transição emocional.
    A maioria dos Doms são apenas delinquentes relacionais. Alguns creio que apenas encontraram um nicho para ter sexo de graça.
    O meu filósofo de referência define "delinquente relacional" como aquele que não pacta* verdadeiramente e pessoas inseguras ou em transição são incapazes de verdadeiros pactos eróticos.
    Pacto erótico é essa "configuração ética e estética que (…) pressupõe contratantes à altura. A saber: contratantes esclarecidos quanto ao seu desejo, nem inconstantes nem vacilantes, nem hesitantes nem atormentados pela contradição que tenham resolvido os seus problemas e não carreguem com a sua incoerência, inconsequência e irracionalidade.”


    * "Defino delinquente relacional aquele que, nem responsável nem culpado, revela uma série de características existenciais que fazem dele um ser incapaz de contratar, portanto de manter uma qualquer relação ética."

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  2. Sim, muitos Dons preocupam-se apenas com o seu bem-estar e a sub não passa de uma ferramenta para atingirem o seu próprio prazer. Numa relação ambos são importantes, independentemente de assumirem posições distintas.

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  3. Olá Ana, foi dificil reencontrar-te

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  4. Sim, reencontrar às vezes é mais difícil do que encontrar!

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  5. então recordas-te deste nick? ou respondes só por cortesia?

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  6. Olá Sahger,

    Não foi por cortesia que respondi foi porque o comentário me fez pensar e merecia resposta. No entanto, peço desculpa, mas não reconheço o nick!Preciso de reavivar a memória!

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  7. can i help? que se passou? estiveste doente?

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  8. Sagher,

    Sim pode ajudar-me a reconhecer o nick! Estou curiosa...

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